Título: Líderes decidem retomar Doha
Autor: Marin,Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2009, Economia, p. B3

G-8 e G-5 também concordaram em evitar desvalorizações de moedas

Denise Chrispim Marin, ÁQUILA

Os líderes do G-8 (sete economias mais industrializadas e Rússia), do G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul), da Austrália, Indonésia e Coreia do Sul concordaram ontem em assumir o compromisso de concluir a Rodada Doha em 2010 e retomar as negociações a partir do ponto em que foram suspensas, em julho do ano passado.

As 16 economias, reunidas em Áquila, deram a instrução para que seus ministros "explorem imediatamente todas as avenidas possíveis" dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e para que se reúnam antes da cúpula do G-20 em Pittsburgh.

O objetivo traçado pelos 16 países de preencher as lacunas dos acordos sobre agricultura e indústria no prazo mais curto possível, entretanto, enfrenta pelo menos um obstáculo: o grau de incerteza ainda presente sobre a economia global.

O próprio G-8, anteontem, constatou que ainda há "riscos significativos" e recomendou a redução do desequilíbrio nas trocas entre países com superávit no comércio bens e serviços, como a China, e os deficitários, como os EUA.

Nesse sentido, a advertência feita pelo presidente americano, Barack Obama, em encontro com Lula, de que o consumo do mercado americano demorará a voltar aos níveis anteriores ao do estouro da crise também colide com a meta de fechar a Rodada Doha em 2010. Em tempos de crise, os acordos de liberalização dificilmente são fechados.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, afirmou que um encontro de ministros de Comércio está planejado para "relativamente em breve". "Estamos fixando como prazo final para a conclusão da Rodada Doha o ano de 2010."

Ele se declarou otimista em relação ao progresso das negociações porque o novo governo dos EUA mostrou vontade de avançar nas discussões, tendo anteriormente pedido tempo para estudar detalhes específicos da rodada. "Para nós, obter esse acordo, no qual avançaremos com velocidade, agora, é um reflexo das políticas que o governo americano está adotando", disse.

MOEDAS

Os líderes do G-8 e do G-5 também concordaram em evitar desvalorizações de moedas e querem promover um sistema financeiro internacional estável. A desvalorização é apontada como uma das principais razões para o agravamento da crise de 1930, quando vários países tentaram ganhar competitividade e acabaram provocando uma onda protecionista.

Mas não houve discussão "real" sobre o papel do dólar no encontro, segundo Brown. "Não estava na agenda e não houve uma discussão séria a respeito." No entanto, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, criticou a supremacia do dólar e defendeu uma reforma do sistema mundial de moedas. O atual modelo, disse, é ultrapassado e resulta da predominância econômica e política dos EUA após a 2ª Guerra.

"Francamente, 60 anos depois, as pessoas precisam perguntar a si mesmas: não deveria um mundo multipolar possuir um sistema econômico multipolar?", disse após coletiva do G-8 e do G-5. "Mesmo sendo um assunto difícil, nós o discutiremos nos próximos meses."

O comentário se aproxima do de líderes de países emergentes, como a China. O conselheiro de Estado da China Dai Bingguo disse que o regime internacional de moedas deve ser diversificado, informou uma autoridade chinesa. Dai disse aos líderes "haver necessidade de melhorar o sistema monetário internacional, o regime de regulação e de moeda de reserva, manter relativa estabilidade das taxas de câmbio das principais moedas de reserva internacional e promover um sistema de moedas mais diversificado e razoável".

Com US$ 2 trilhões em reservas internacionais, a maior parte em dólares americanos, a China tem forte interesse em evitar qualquer atitude que prejudique o valor do dólar. Mas a crise aumentou a preocupação das autoridades chinesas com a perda do valor da moeda norte-americana e seu impacto sobre as reservas chinesas. A China já sugeriu que os Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda do FMI, tivessem seu papel ampliado.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS