Título: Embraer e Boeing fecham semestre com um só pedido
Autor: Barbosa,Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2009, Economia, p. B9

Saldo entre encomendas e cancelamentos mostram tamanho da crise na aviação comercial

Mariana Barbosa

As fabricantes de aviões, que passaram os últimos anos batendo recordes e competindo para ver quem recebia mais encomendas, agora se esforçam para evitar cancelamentos e manter o número de entregas. No primeiro semestre deste ano, a Embraer registrou saldo líquido de apenas um pedido no segmento de aviação comercial. A empresa vendeu 28 novos aviões, mas não conseguiu evitar o cancelamento de outros 27 jatos - sendo 25 ERJ 145 que seriam fabricados na China para o grupo chinês Hainan.

A fabricante brasileira tem dito que não acredita em recuperação antes do final de 2011. "Teremos pelo menos dois ou três anos difíceis pela frente", declarou o presidente da Embraer, Frederico Curado, em entrevista recente.

Assim como a Embraer, a Boeing também obteve saldo de um pedido no primeiro semestre. A fabricante americana vendeu 85 aviões de janeiro a junho, mas viu seus clientes cancelarem 84 aeronaves. Mais de 70 cancelamentos referem-se ao novo 787 Dreamliner, cujo desenvolvimento tem sofrido sucessivos atrasos.

A Airbus saiu-se um pouco melhor: vendeu 90 novos aviões, mas recebeu pedidos de cancelamento para 22 aviões, um saldo de 68 aviões.

O balanço das vendas e cancelamentos dão uma dimensão do tamanho da crise no setor aéreo. No primeiro semestre de 2008, só a Airbus vendeu nada menos que 525 jatos. Para este ano, a empresa mantém inalterada sua meta de vender 300 novos aviões, mas admite que não será uma tarefa fácil.

No primeiro trimestre deste ano, a canadense Bombardier comemorou 50 novas encomendas para os jatos da família C-Series, concorrente dos Embraer 190 e que estão em fase de desenvolvimento. Dos modelos em produção, considerando apenas o segmento da aviação comercial, a Bombardier teve saldo zero: uma encomenda e um cancelamento.

Um cenário completamente diferente daquele de 2005 a 2007, quando o setor bateu recordes sobre recordes. Boeing e Airbus saíram de um nível de venda de pouco mais de mil unidades cada uma em 2005, para 1.413 e 1.341, respectivamente, em 2007.

Por conta do acúmulo de pedidos dos últimos anos, as empresas dizem que os cancelamentos de agora não as preocupam. No mês passado, na feira de aviação Le Bourget, em Paris, o presidente da Airbus, Thomas Enders, declarou que a companhia poderia suportar até mil cancelamentos. "Com 3,5 mil pedidos em carteira, pode cair para 3 mil ou 2,5 mil que ainda teremos trabalho para os próximos cinco anos", declarou. A Boeing tem uma carteira de 3.469, suficiente para mantê-la ocupada por sete anos.

Entretanto, as fabricantes estão lutando para manter o nível das entregas - o que significa manter as receitas. As companhias aéreas costumam dar um pequeno sinal no ato do pedido, enquanto o pagamento principal acontece no ato da entrega.

No primeiro semestre, a Embraer entregou 96 aeronaves de todos os segmentos - sendo 67 para a aviação comercial. Isso representa apenas um avião a menos do que no primeiro semestre do ano passado. Mas, em termos de receita, houve uma redução significativa, dado que aumentaram as entregas dos jatos executivos Phenom, que são mais baratos. A fabricante, que entregou 204 aviões no ano passado, tinha uma previsão de entregar 272 este ano, mas reduziu essa previsão para 242 jatos.

A Boeing entregou 246 jatos no primeiro semestre, pouco mais da metade do que pretende entregar ao longo de todo o ano, de 480 a 485. A Airbus entregou 254 aviões e planeja entregar 483 em todo o ano. No entanto, analistas estão pessimistas com relação a essas metas, num momento em que as companhias aéreas enfrentam forte queda no tráfego de passageiros e dificuldades na obtenção de crédito.

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