Título: Bernanke prevê juros baixos por um longo período nos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2009, Economia, p. B1

Fed já tem plano para saída da crise e avalia que a economia está melhorando, mas o desemprego ainda preocupa

Agências internacionais, WASHINGTON

O governo dos Estados Unidos já prepara estratégias de saída da crise financeira internacional, mas avalia que a economia ainda está frágil demais e é cedo para reduzir os estímulos e apertar a política monetária. Em depoimento ao Congresso americano ontem, Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), detalhou o plano pós-recessão e garantiu que o Fed tem as ferramentas necessárias para fazer a transição.

Bernanke disse aos congressistas que o caminho da recuperação passa por medidas de aperto monetário, como alta dos juros, redução das reservas dos bancos junto ao Fed e enxugamento da liquidez de mercado. As mudanças devem ocorrer de forma "suave".

Esse detalhamento foi antecipado em artigo assinado por Bernanke e publicado ontem no Wall Street Journal. "Acreditamos ser importante assegurar ao público e aos mercados que as medidas de política extraordinárias que tomamos em resposta à crise financeira e à recessão podem ser retiradas de forma suave e adequada conforme necessário, evitando assim o risco de um futuro aumento na inflação", escreveu.

O presidente do Fed não informou quando a estratégica será posta em prática, mas afirmou que a expectativa é de recuperação perto do fim do ano.

Mas as taxas dos juros - mantidas desde dezembro numa margem próxima de zero - devem permanecer "excepcionalmente em níveis baixos por um longo período", apesar das melhoras na economia e nos mercados financeiros, reafirmou Bernanke. "À luz da substancial lentidão da economia e das pressões inflacionárias limitadas, a política monetária continua focada em alimentar a recuperação econômica."

A maior preocupação hoje é com o mercado de trabalho que deve ainda demorar a reagir. Há um temor sobre a perspectiva de recuperação sem emprego. A taxa de desemprego já está em 9,5% e o Fed espera que feche o ano entre 9,8% e 10,1%. "A insegurança no emprego, aliada ao declínio no valor das moradias e ao crédito restrito, provavelmente limitarão os gastos dos consumidores."

A inflação, por sua vez, ainda não é ameaça. Bernanke disse que as preocupações sobre os preços "estão mal orientadas" e reiterou que os formuladores da política monetária esperam inflação baixa nos próximos dois anos. "O Federal Reserve é capaz de drenar reservas e elevar juros no momento apropriado para garantir que não se tenha um problema de inflação."

Bernanke avaliou que os preços estão "bastante estáveis neste momento". "Vamos deixar claro o que está acontecendo - o Federal Reserve não está colocando dinheiro na economia. O que estamos fazendo é criar reservas bancárias."

Algumas das medidas emergenciais tomadas durante a crise já começaram a ser desmontadas. O montante total de crédito que o Fed estendeu aos bancos e outras instituições, por exemplo, caiu abaixo de US$ 600 bilhões, de cerca de US$ 1,5 trilhão no fim de 2008, relatou Bernanke. "De qualquer forma, se as condições econômicas justificarem um aperto da política monetária antes que esse processo de desmonte seja concluído, temos uma série de ferramentas que nos permitirão elevar os juros do mercado conforme necessário."

Bernanke também pediu para que os legisladores comecem a trabalhar em desfazer os próprios esforços fiscais para combater a recessão. Segundo ele, é preciso planejar agora o retorno a um orçamento equilibrado. "A não ser que demonstremos um forte compromisso com a sustentabilidade fiscal, corremos risco de não ter nem estabilidade financeira nem crescimento econômico durável", ressaltou.

As declarações que desenham uma economia ainda fraca reduziram os ânimos de Wall Street. O desempenho no início do pregão começou acelerado pelo resultado de balanços de empresas (ler ao lado), mas fechou o dia estável. O índice Dow Jones subiu 0,77%, o Nasdaq ganhou 0,4%, e o S&P 500, 0,36%.