Título: Banco do Nordeste aplica todo o dinheiro
Autor: Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2009, Economia, p. B5

Exemplo de sucesso no microcrédito, banco lucra R$ 50 por cliente Edna Simão, BRASÍLIA

BRASÍLIA

Um dos modelos de microcrédito mais bem-sucedidos do País é o do Banco do Nordeste (BNB) com o Crediamigo. Somente neste ano, foram realizadas 463 mil operações, o que representou a liberação de R$ 535 milhões. A expectativa da instituição é que o volume de concessão de crédito de baixo valor registre um aumento de até 35% neste ano.

Para atender a clientela, o Banco do Nordeste é um dos poucos que destinam integralmente os 2% dos depósitos à vista para o microcrédito, como determina o Conselho Monetário Nacional (CMN). "Aplicamos 100% de nossa exigibilidade", conta o superintendente de Microfinanças do BNB, Stélio Gama.

A demanda por esses recursos é tão grande que o BNB ajuda outros bancos a cumprirem com a exigência do governo. Isso porque as instituições privadas podem transferir esse dinheiro da exigibilidade para outra entidade ou banco que já trabalhe com a baixa renda. Essa é uma maneira de não deixar o dinheiro parado, sem remuneração, no Banco Central (BC).

"Cerca de 50% do que emprestamos são captados de outras instituições financeiras", afirma Gama. Segundo o executivo, o porcentual só não é maior porque alguns bancos cobram uma taxa de juros elevada para repassar a verba.

Mas o BNB quer expandir esse tipo de empréstimo, hoje mais focado no Nordeste, para outras cidades brasileiras. Desde a semana passada, o Crediamigo passou a ser encontrado, por exemplo, no Rio de Janeiro, por meio de parceria com a prefeitura local.

A meta para os próximos dois anos é aumentar a presença do modelo na Região Centro-Oeste. "Tudo vai depender das parcerias, do funding e do risco das operações", destaca Gama.

Mesmo com crise econômica mundial, o ritmo de concessão de crédito do BNB não se alterou. "A crise não chegou à informalidade; as pessoas que pegam nosso empréstimo atuam no setor do comércio, que foi menos atingido", disse o superintendente de microfinanças do BNB.

O banco, no entanto, teve de aprender a conviver com uma inadimplência maior, por conta de desastres naturais. "Tivemos de renegociar dívidas no Maranhão, Piauí e Ceará, que sofreram com as chuvas. Acredito que o segundo semestre será bem melhor", afirma o superintendente. O nível de calote no banco atingiu 1,44% das operações.

Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marcelo Neri, apesar de os bancos privados alegarem que o microcrédito não é uma operação lucrativa, o Banco do Nordeste consegue o lucro de R$ 50 por cliente com o microcrédito. Além disso, o beneficiário da linha consegue ampliar em 42% seu lucro.