Título: Lula quer que PT paulista desista de candidatura própria
Autor: Rosa, Vera; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2009, Nacional, p. A10

Presidente defende apoio a Ciro e cobra ?responsabilidade? do partido

Vera Rosa e Eugênia Lopes, BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer agora que o PT desista de candidatura própria ao governo de São Paulo e apoie o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) na campanha ao Palácio dos Bandeirantes. Sob o argumento de que o PT precisa fechar parcerias com outros partidos para fortalecer a candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Planalto, em 2010, Lula cobrou "responsabilidade" da sigla e deixou claro que tentará enquadrar os petistas. Após o recesso parlamentar, ele chamará deputados, senadores e dirigentes para uma conversa, em Brasília.

"O PT precisa ter responsabilidade e saber a força que tem em cada Estado", disse o presidente. "Com 20 anos de história, o PT já deve ter aprendido que tem de fazer política de alianças para ganhar as eleições", completou.

Lula já chegou a manifestar preferência pela candidatura do deputado Antonio Palocci (PT-SP) à sucessão do governador José Serra (PSDB), mas hoje acredita que essa opção é difícil de ser concretizada. Acusado de ter violado o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Palocci está à espera do julgamento do Supremo Tribunal Federal, que deve ocorrer em agosto, mas Lula avalia que, quanto mais se fala no assunto, mais o STF adia a decisão para não parecer pressionado pelo Planalto.

Mesmo confiando na absolvição de Palocci, o presidente tem dito, em conversas reservadas, que é melhor apostar em outra alternativa para não "queimar" o ex-ministro da Fazenda. Ele tem argumentado que considera Ciro "um bom nome". O presidente sabe da resistência do PT a essa "solução" fora da seara petista, mas está disposto a convencer o partido. Havia até mesmo marcado um jantar para hoje com 15 petistas para tratar da sucessão paulista, mas cancelou o encontro depois que a notícia "vazou".

A todos os interlocutores com quem conversou sobre o assunto até o momento, Lula listou vários argumentos sobre a conveniência do apoio a Ciro. Para ele, a composição do PT paulista com o ex-ministro da Integração Nacional resolveria vários problemas de uma só vez. Em primeiro lugar, tiraria Ciro do páreo presidencial e, em segundo, criaria uma candidatura com densidade em São Paulo, bombardeando o "ninho" tucano.

Estimulado pelo Planalto, Ciro admite desistir da candidatura à sucessão de Lula, trocando seu título eleitoral de Fortaleza para São Paulo. Paulista de Pindamonhangaba que construiu sua carreira política no Ceará - foi prefeito de Fortaleza (1988 a 1990) e governador do Estado (1991 a 1994) -, o deputado garante que não quer mais retornar à Câmara dos Deputados.

"Tem gente séria do PT falando comigo sobre a possibilidade de disputar o governo de São Paulo e estou avaliando isso", contou. "Meus filhos moram em São Paulo."

Ex-tucano, Ciro é adversário de Serra, que quer concorrer à cadeira de Lula, e amigo do governador de Minas, Aécio Neves, o outro pré-candidato do PSDB. O problema é que, apesar dos acenos feitos ao deputado por interlocutores de Lula, a maioria do PT paulista resiste à ideia de abrir mão da candidatura própria no maior colégio eleitoral do País.

Para completar, não há consenso entre as correntes petistas e os nomes mais conhecidos do partido sofreram desgaste político. No atual cenário, o grupo do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) quer lançar ao Bandeirantes o prefeito de Osasco, Emidio de Souza, mas aliados da ex-prefeita Marta Suplicy também desejam que ela entre no páreo, caso Palocci não seja candidato.

Nenhuma das opções é vista com simpatia por Lula: Emidio é desconhecido e Marta perdeu duas eleições para a Prefeitura. Na outra ponta, a corrente petista Mensagem ao Partido, liderada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, aposta na pré-candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Apesar de gostar do jovem Haddad, Lula avalia que ele não tem condições de dar um palanque forte para Dilma em São Paulo e nem de se contrapor ao PSDB.