Título: Diálogos devem resultar na 4ª denúncia contra senador
Autor: Costa,Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2009, Nacional, p. A6

Decisão de levar novo caso ao Conselho de Ética foi anunciada pelo líder do PSDB, após ouvir gravações de conversas reveladas ontem pelo ""Estado""

Rosa Costa

A revelação dos diálogos em que José Sarney (PMDB-AP) e o filho, o empresário Fernando Sarney, negociam emprego para o namorado da neta do parlamentar agravou a situação do presidente do Senado, já alvo de três denúncias no Conselho de Ética. Após ouvir os áudios, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), decidiu apresentar a quarta denúncia contra Sarney. O líder do DEM, José Agripino (RN), vai propor à bancada que também represente contra o senador no conselho, caso não seja apresentada uma justificativa convincente.

Segundo Agripino, os diálogos da família Sarney, revelados na edição de ontem do Estado, são "motivo de sobra" para a representação. Segundo ele, fica patente a "intimidade" com fatos investigados no Senado, como o uso de atos secretos para nomear parentes. "São fatos graves que revelam uma relação administrativa inconveniente e reprovável."

"Fica evidenciada a intenção do senhor Agaciel Maia (ex-diretor geral do Senado) de patrocinar interesse privado perante a administração pública, valendo da condição de funcionário público", acrescentou o tucano. Virgílio referia-se aos diálogos em que Sarney e o filho, Fernando, acertam a ajuda de Agaciel para nomear Henrique Bernardes, namorado da neta, Maria Beatriz, para a vaga do meio-irmão dela, Bernardo Brandão. A exoneração e a contratação foram efetivadas por meio de atos secretos. "Os diálogos são um escárnio. Sarney não tem como ficar na presidência."

Para o ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (PMDB-RN), se confirmados os diálogos, a situação de Sarney "baixa para a insustentabilidade". E acrescentou: "Não quero acirrar, mas de qualquer maneira isso agrava sua situação."

Garibaldi disse que se sentiu "incomodado" com as gravações. Agaciel, segundo conversas entre Fernando e sua filha, se refere ao senador como alguém que seria decisivo para a contratação de Henrique. "Eu não tenho nada a ver com isso, não fui procurado por Agaciel nem por ninguém", reagiu.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) entende que chegou o "ponto final" de Sarney no comando do Senado. "Não tem mais como ele empurrar com a barriga, é esperar agora que reconheça isso e renuncie à presidência." Diante da evidências dos áudios gravados pela PF, Jarbas declarou que agora se chegou à "prova clara, transparente e robusta".

Na avaliação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o Senado está "se desfazendo" diante de uma "crise insustentável", que "só será solucionada com a saída de Sarney". Segundo ele, o presidente da Casa está "à beira da cassação". O senador chegou a propor um "plebiscito"- só entre os parlamentares - para que digam quem apoia ou não a manutenção de Sarney na presidência da Casa.

Cristovam também disse que pedirá hoje ao presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), que convoque uma reunião de emergência entre os conselheiros para discutir a revelação sobre a contratação do namorado da neta de Sarney.

DENÚNCIAS

Três outras denúncias apresentadas pelo PSDB e uma representação do PSOL já estão no Conselho de Ética. Os partidos acusam Sarney de conivência com uma série de irregularidades detectadas no Senado, incluindo os atos secretos.

O tucano Arthur Virgílio é também autor de pedido ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para que investigue o senador pelo crime de tráfico de influência e o ex-diretor Agaciel por advocacia administrativa.