Título: Gravidade da gripe é semelhante a da sazonal
Autor: Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2009, Vida&, p. A23

Conclusão é de estudo do ministério; para Opas, quadro na região é pior

Fabiane Leite

Novo levantamento do Ministério da Saúde indica que o porcentual de pacientes que desenvolveram quadros graves após contrair a gripe suína é um pouco menor do que o registrado na gripe comum. A pasta analisou 1.566 casos confirmados da nova gripe entre 25 de abril e 18 de julho e verificou que 14,2% desenvolveram a síndrome respiratória aguda grave, que causa comprometimento dos pulmões, com sintomas como falta de ar. Do total de 528 casos de gripe comum confirmados no mesmo período, 17% apresentaram o problema pulmonar.

Ainda segundo a análise do ministério, dos casos de comprometimento pulmonar registrados no País, a maioria, 55,7%, é de mulheres. A faixa dos 20 aos 49 anos é a que mais foi atingida pela nova gripe e pela comum. No boletim divulgado ontem a pasta confirma que o total de mortes pela doença no País subiu de 29 para 34. No Rio Grande do Sul, o número de óbitos subiu para 16. Em seguida vem São Paulo, com 12.

O ministério informou que não utilizará mais taxas de letalidade (número de mortes dividido pelo total de casos confirmados) para avaliar a evolução da doença. No lugar, além dos dados sobre gravidade da gripe, utilizará a taxa de mortalidade (número de mortes em relação a população do País), que atualmente está em 0,18/100 mil habitantes. Mudanças nos critérios para o acompanhamento da doença eram cobradas por especialistas desde que o ministério decidiu, no início do mês, fazer testes confirmatórios só em casos graves.

A Organização Pan-Americana de Saúde, no entanto, alerta que análises de dados de países como Chile, Argentina, Canadá e EUA, que têm abastecido o órgão com grande carga de informações, mostram que a gripe suína é pior do que a comum. O Brasil, no entanto, ainda não disponibilizou oficialmente dados requisitados pelo órgão que permitiriam uma análise, como informações sobre o atendimento a doenças respiratórias e registros de síndrome respiratória aguda. "Esse primeiro estudo é ótimo, mas é importante um aprofundamento e um seguimento", afirmou o o brasileiro Jarbas Barbosa, gerente da área de Vigilância em Saúde e Gestão de Doenças da Opas. Ele destacou que a demora do País pode ser justificada pelo fato de o Brasil somente na semana passada ter registrado a circulação do vírus. "O Chile, que tem o melhor sistema de vigilância da região, por ter mais inverno, tem semana por semana o número de consultas, internações, e todos os valores estão acima do ano passado. Isso é um fato. Mesmo nos EUA, que estão fora do inverno, o número de consultas e internações por influenza está acima do que é esperado." Enquanto, em 2008, a Argentina registrou média de 45 mil consultas por sintomas da gripe em uma semana, neste ano registrou 92 mil, exemplifica Barbosa.

Boletim divulgado pela Opas anteontem informa que na comparação com semanas anteriores, Chile, Argentina, Canadá, El Salvador, Mexico, Paraguai e Uruguai informaram intensidade alta ou muito alta de síndromes respiratórias agudas. "Esse vírus em seis semanas se espalhou com uma velocidade que o sazonal só se espalha em seis meses. A maioria dos casos é leve, mas a pequena proporção de graves é claro que vai gerar impacto maior", diz Barbosa.

COLABOROU LÍGIA FORMENTI