Título: Brasil reforça liquidez argentina
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2009, Economia, p. B3

Países vão assinar contrato de troca de moedas de R$ 3,5 bilhões

Denise Chrispim Marin, ASSUNÇÃO

Brasil e Argentina devem assinar no dia 3, em São Paulo, o contrato de troca de moedas (swap) no valor de R$ 3,5 bilhões, que está pronto há quase um mês. O objetivo imediato da iniciativa é reforçar a liquidez do principal sócio do Brasil no Mercosul e seu terceiro maior parceiro comercial.

Adicionalmente, o governo Luiz Inácio Lula da Silva espera que esse contrato chame a atenção da comunidade internacional para a condução do setor externo argentino, considerada eficiente pelo Ministério da Fazenda, e facilite eventuais negociações de Buenos Aires com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com outros credores da Argentina.

"O nosso propósito será demonstrar a solidariedade do Brasil com o manejo do setor externo argentino neste momento de crise internacional", afirmou uma autoridade do Ministério da Fazenda. "Pela primeira vez nos últimos 30 anos a Argentina atravessa uma crise com as reservas internacionais elevadas e uma boa condução do seu calendário de amortização da dívida."

O mecanismo prevê que o Banco Central brasileiro transfira até R$ 3,5 bilhões para o Banco Central argentino, que terá liberdade para injetar esses recursos na economia. O dinheiro deverá ser destinado a empresas exportadoras e a quem estiver com dificuldade de rolagem de passivos. Mas haverá restrições com relação à conversão dos reais em dólares, que terá de ser submetida antes ao aval do BC brasileiro.

O governo argentino já contratou o banco Morgan Stanley para executar essas operações, segundo uma fonte de Buenos Aires. O BC argentino, por sua vez, deverá retornar o valor que vier a tomar do Brasil em pesos, mas com remuneração baseada na taxa básica de juros, hoje de 8,75% ao ano.

Na avaliação do Ministério da Fazenda, o swap de moedas Brasil-Argentina poderá ajudar especialmente na estratégia do novo ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, de retomar o diálogo com o FMI, o Clube de Paris e outros credores internacionais.

Desde a nomeação de Boudou, o temor da Fazenda está centrado na tendência de o ex-presidente argentino Néstor Kirchner continuar a comandar, de fato, o ministério e inviabilizar a possível equalização da dívida externa do país. "Quanto mais a Argentina voltar ao mercado de crédito internacional, melhor para o Brasil", afirmou uma autoridade da equipe econômica brasileira.

"Com o swap de moedas e o financiamento de obras de infraestrutura, o Brasil cumpre um papel na Argentina que deveria ser de outras fontes, que desapareceram." Parte do esforço do governo brasileiro nos foros internacionais também se concentra nesse imbróglio do país vizinho com a comunidade financeira.

Os discursos de Lula e de sua equipe para que o FMI abrande suas condições aos países em desenvolvimento que vierem a pedir socorro financeiro tem como foco Buenos Aires, segundo a mesma autoridade.

Para a Fazenda, os credores e as fontes de financiamento não podem "colocar a Argentina de joelhos".