Título: Resultado do IBGE revela o pior tipo de desemprego
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2009, Economia, p. B4

Hélio Zylberstajn: professor da Faculdade de Economia e Administração da USP; Segundo o professor da USP, esse é o desemprego oculto pelo desalento, pela desesperança de procurar emprego

Márcia De Chiara

Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho (Ibret), diz que a queda na taxa de desemprego apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não deve ser comemorada. O indicador recuou para 8,1% em junho, depois de ter atingido 8,8% em maio, porque as pessoas desistiram de procurar emprego. "Esse resultado revela o pior tipo de desemprego: o desemprego oculto pela desesperança de procurar emprego." A seguir os principais trechos da entrevista.

A taxa de desemprego de junho do IBGE surpreendeu?

Sim. Esse resultado mostra que está havendo uma espécie de estagnação no mercado de trabalho. Ele parou de receber novos entrantes na População Economicamente Ativa (PEA). Veja que coisa engraçada: o número de ocupados cresceu 200 mil em junho ante maio e o número de desempregados diminuiu 200 mil no mesmo período. É por isso que diminuiu o desemprego. Porque ninguém mais chegou para procurar emprego. Essa é a surpresa.

Nesse contexto, a queda da taxa de desemprego não é favorável?

Ela indica o pior tipo de desemprego: o desemprego oculto pelo desalento, pela desesperança de procurar emprego.

A queda deve ser comemorada?

Um copo de água cheio pela metade pode ser visto de duas maneiras. Um jeito de você olhar é: temos 200 mil empregos a mais em relação ao mês passado. Por outro lado, isso é muito pouco.

Por essa análise o sr. não vê alguma melhoria?

Vejo um congelamento. Quando você analisa onde o emprego cresceu, vê que aumentou nos serviços públicos: educação, saúde, serviços sociais e administração pública.

O emprego cresceu patrocinado pelo governo?

Aparentemente são as atividades ligadas ao governo. Todas as outras (serviços privados, indústria, etc) estão estáveis em relação ao mês anterior. Não há crescimento novo. O único crescimento novo ocorre nos serviços públicos. O emprego no funcionalismo público e entre os militares cresceu 4% no mês.

Esse resultado faz parte das medidas anticíclicas do governo?

Provavelmente. Não é que isso esteja errado, mas o emprego no setor privado ainda não está dando sinal de melhora. É como eu disse: o copo está meio cheio e meio vazio, parou de diminuir e já é alguma coisa. Mas não retomou e congelou. Há duas maneiras de uma pessoa deixar de ser considerada tecnicamente desempregada: achar um emprego ou desistir de procurá-lo. Pelo jeito, o que está acontecendo em maior escala hoje é a segunda opção.

Qual é a tendência para o emprego?

Não tenho bola de cristal. Imagino que, daqui para frente, haja melhora. O que se pode dizer é que a atividade precisa melhorar em todas as dimensões para depois se refletir no aumento do emprego. A decisão de contratar é sempre tardia. O empresário precisa ter muita certeza para voltar a admitir.