Título: Remessa de lucro e dividendo leva déficit a US$ 535 milhões
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2009, Economia, p. B3

Em junho, foram US$ 3 bilhões, quase um terço do total de US$ 10,8 bilhões no semestre

Renato Andrade

As contas externas brasileiras fecharam o mês de junho com um déficit de US$ 535 milhões, resultado pior que o esperado por analistas e pelo próprio Banco Central (BC). A surpresa foi causada por um aumento no volume de dividendos pagos por empresas para investidores no exterior. Ainda assim, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos no mês passado mais que compensou o resultado negativo das transações correntes.

Analistas consultados pela Agência Estado esperavam um resultado melhor. As projeções variavam de um déficit de US$ 150 milhões a um superávit de US$ 1 bilhão. O BC estimava saldo zero.

As remessas líquidas de lucros e dividendos somaram US$ 3,03 bilhões em junho, praticamente um terço do volume remetido no primeiro semestre, que atingiu US$ 10,86 bilhões. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, duas operações de remuneração de recibos de ações brasileiras negociados no exterior - conhecidos por ADRs - responderam pela saída de US$ 800 milhões, o que explica em boa medida o resultado negativo no mês. Junho também foi mês de fechamento de balanços, quando normalmente as remessas aumentam.

Apesar disso, o BC não estima um aumento das remessas, como visto no fim do ano passado, quando empresas instaladas no País ampliaram o volume de dinheiro repassado para suas matrizes por conta da crise global. "Devemos ter uma acomodação das remessas ao longo do ano, dado o próprio nível de atividade econômica."

Outro fator que contribuiu para o saldo negativo foi o aumento dos gastos líquidos da chamada conta de serviços, que inclui as despesas e receitas com viagens internacionais, royalties e aluguel de equipamentos. A conta ficou negativa em US$ 1,9 bilhão, o mesmo nível observado no mesmo período do ano passado.

INVESTIMENTOS

Apesar da surpresa negativa, o volume de investimento estrangeiro direto atingiu US$ 1,45 bilhão, mais do que o suficiente para cobrir o buraco das transações correntes. De janeiro a junho, somou US$ 12,7 bilhões, enquanto que o déficit acumulado nas transações correntes ficou em US$ 7,07 bilhões - menos da metade dos US$ 16,87 bilhões do primeiro semestre do ano passado.

Assim, o déficit de junho não alterou a tendência de melhora das contas externas. Para julho, a estimativa do BC é de um ingresso líquido de US$ 1,6 bilhão em investimentos estrangeiros diretos, enquanto as transações correntes devem fechar o mês com um déficit de US$ 800 milhões.

No acumulado em 12 meses até junho, o saldo negativo das contas externas recuou para US$ 18,4 bilhões - 1,37% do Produto Interno Bruto (PIB) -, ante US$ 20,6 bilhões de déficit nos 12 meses encerrados em maio. Segundo analistas da Rosenberg & Associados, o movimento reforça a expectativa de redução gradual do saldo negativo até o fim do ano.

Segundo Lopes, o comportamento das contas externas indica uma "continuidade da melhora" do resultado da primeira metade do ano no decorrer do segundo semestre, o que justifica a manutenção da estimativa oficial do BC de um déficit de US$ 15 bilhões para as contas externas em 2009. No ano passado, o déficit foi de US$ 28,2 bilhões.