Título: Empresários querem retaliações à Argentina
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2009, Economia, p. B5
Queixa é que a negociação para liberação de importações de produtos brasileiros não evolui
Raquel Landim
No primeiro dia da reunião entre Brasil e Argentina, os setores de calçados e móveis cobraram do governo brasileiro uma atitude mais enérgica. Dois meses depois de se comprometerem a limitar suas exportações, os empresários continuam sofrendo com o atraso do sócio do Mercosul para liberar licenças de importação.
"Não é possível ficar três meses negociando um acordo; eles não cumprem e fica por isso mesmo. Não volto à Argentina para negociar mais nada", disse José Luiz Diaz Fernandez, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Móveis (Abimóvel), que esteve em cinco reuniões, três delas em Buenos Aires. O setor concordou em reduzir as exportações em 35% este ano, mas as licenças de importação continuam paradas.
A reunião da comissão de monitoramento do comércio começou ontem e termina hoje em São Paulo. É o quinto encontro este ano, e o clima é de descrença. O setor privado brasileiro acredita que o modelo está esgotado porque os argentinos dificultam as negociação ou não cumprem os acordos fechados.
Por conta do mau tempo em Buenos Aires, o voo atrasou e os argentinos chegaram três horas depois do previsto. As reuniões dos setores têxtil e de pneus começaram às 18 horas. Boa parte dos encontros foi adiada para hoje, como os que discutiram celulares, brinquedos, embreagens, baterias e o do comitê automotivo.
Segundo Eugênio Deliberato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneumáticos (Anip), os argentinos prometeram reduzir a burocracia para a importação de pneus, mas não foi estabelecida nenhuma cota. Um novo encontro ficou marcado para daqui a um mês. "Vamos esperar que cumpram o acerto", disse. Foi a primeira reunião do setor sobre o tema.
Os setores de móveis, calçados e leite conversaram ontem com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. O subsecretário de Política e Gestão Comercial do Ministério da Produção da Argentina, Eduardo Bianchi, não havia chegado. Eles aguardam a posição do governo argentino para hoje.
"Estamos no final da temporada de inverno no setor de calçados. O que não foi feito até agora não vai mais", disse Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados).
Segundo ele, quando o acordo foi selado, os argentinos prometeram liberar licenças de importação para 2,5 milhões de pares entre junho e julho, mas não fizeram nem a metade. Ontem foi a quarta reunião do setor.
Segundo os empresários, Ramalho disse que o problema chegou "ao alto escalão do governo" e contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na semana passada. Os empresários pedem ao governo brasileiro que retalie a Argentina ou recorra à Organização Mundial de Comércio (OMC).