Título: Para especialistas, CPI não abala imagem no exterior
Autor: Komatsu, Alberto; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2009, Economia, p. B4

Investidores estão interessados em temas como pré-sal

Daniela Milanese e Tatiana Freitas, AGÊNCIA ESTADO, LONDRES E SÃO PAULO

As investigações do Senado sobre a Petrobrás são consideradas insuficientes para abalar a imagem da companhia no exterior, apesar do desconforto com a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a companhia, conforme avaliam analistas de instituições financeiras internacionais ouvidos pela Agência Estado.

Com o agravamento das denúncias contra a estatal, o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, chegou a demonstrar preocupação com a imagem da petroleira no exterior. Porém, os especialistas acreditam que, na prática, os efeitos das polêmicas envolvendo a Petrobrás no campo político sobre a sua atividade e acesso a financiamentos, lá fora, são mínimos.

Hoje, as atenções dos investidores estrangeiros estão voltadas a outros temas, como o novo modelo regulatório, os custos e o índice de sucesso na exploração do cobiçado pré-sal. O sucesso da empresa na atividade, nos últimos anos, também contribuiu para que a Petrobrás conquistasse boa reputação no exterior, circunstância que leva as denúncias de caráter político para segundo plano.

"Curiosamente, a imagem da Petrobrás fora do Brasil é melhor do que aqui. Ela é vista como líder na exploração de águas profundas e uma das contratantes mais duras do mercado. É um grande elogio, na minha visão", diz o analista do UBS Pactual Gustavo Gattass.

Analistas consultados pela Agência Estado em Londres enxergam a CPI como uma disputa política interna entre governo e oposição, sem forças para estremecer a atual visão favorável do setor no Brasil. "As discussões da CPI ainda estão restritas ao plano doméstico, e não tiveram a mesma repercussão aqui fora", diz Alejandro Chacoff, analista da consultoria Control Risks. Segundo ele, a instalação da CPI, cujos trabalhos devem começar em 6 de agosto, não preocupa os investidores estrangeiros nem é vista como ameaça aos negócios da Petrobrás no momento.

Para Carlos Caicedo, chefe para a América Latina da consultoria Exclusive Analysis, as investigações no Senado só afetariam os investidores estrangeiros se provocassem a exclusão da estatal como principal operadora do pré-sal, como punição a eventuais irregularidades. No entanto, ele diz que tal desdobramento é altamente improvável, pois esse não é o interesse do governo, que tem maioria na comissão. "Não vejo nenhuma empresa deixando de fazer joint venture com a Petrobrás em razão da CPI."

Com sede no Brasil mas em contato direto com investidores de fora do País, Gattass, do UBS, também entende que as denúncias não foram suficientes para arranhar a imagem da Petrobrás, mas ressalta que, dependendo do resultado dos trabalhos da CPI e de suas repercussões - como uma eventual saída de Gabrielli do comando da empresa -, a comissão ganharia importância aos olhos dos investidores estrangeiros.

A analista Anisa Redman, do HSBC em Londres, admite que as acusações não são positivas para a Petrobrás. Porém, não acredita que a CPI possa ter consequências graves ou abalar financeiramente a estatal, com base nas informações conhecidas até o momento.

Um profissional de um banco europeu acredita que, se houvesse receio sobre a CPI, os investidores já teriam vendido as ações da empresa antes das férias no Hemisfério Norte, o que não ocorreu. Ele conta que os questionamentos dos clientes giram em torno da possibilidade de a comissão do Senado atrasar o novo modelo do setor, aguardado no exterior.

Para o analista do Credit Suisse Emerson Leite, o início dos trabalhos da CPI, aliado a dificuldades do governo brasileiro na aprovação do novo marco regulatório, pode resultar em notícias negativas nos próximos meses. Em relatório recente encaminhado a clientes, ele destaca que ainda há questões em aberto, como a possibilidade de aumento de capital do governo na Petrobrás, por meio de reservas.

De forma geral, os analistas avaliam que as novas regras serão receptivas aos investidores internacionais, pois o pré-sal demanda grandes aportes. É aguardada a criação de uma nova estatal para administrar as reservas e a adoção do modelo de partilha de produção, além da manutenção dos contratos já assinados.