Título: Copom reforça fim do ciclo de cortes
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2009, Economia, p. B6

Ata revela que alguns diretores do BC cogitaram manter a taxa de juro em 9,25% na reunião da semana passada

Fabio Graner e Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou as apostas dos analistas do mercado financeiro de que o atual ciclo de cortes na taxa básica de juros chegou ao fim. Apesar de não dizer isso explicitamente, o documento dá várias pistas nessa direção. A ata da reunião de junho, por exemplo, afirmava haver "margem residual" para a flexibilização da política monetária. No documento divulgado ontem, essa expressão não aparece.

Outra pista foi a defesa de uma atitude "mais cautelosa" para evitar, no futuro, uma reversão repentina da política monetária, caso a inflação volte a subir. "O Copom considera, também, que uma postura mais cautelosa contribuirá para mitigar o risco de reversões abruptas da política monetária no futuro e, assim, para a recuperação consistente da economia ao longo dos próximos trimestres", diz o BC. O recado é simples: cortar muito o juro agora pode provocar a necessidade de aumento da taxa no futuro.

A leitura do documento revela também que alguns diretores do Banco Central cogitaram na semana passada manter a taxa básica de juros em 9,25%, o que foi considerado no mercado como mais um indicativo de que o ciclo está no fim.

Mas, se o juro parece que não vai cair mais, tampouco a ata indica alguma preocupação com a inflação que justificaria uma elevação da Selic em breve. O documento destaca que o cenário inflacionário é favorável, em razão da atividade econômica ainda fraca por causa da crise internacional e do fato de as expectativas futuras estarem dentro da meta para este e os próximos anos.

E no documento de ontem o Banco Central mencionou não só as expectativas positivas de inflação para 2009 e 2010, mas também destacou que as de 2011 "continuam em patamar consistente com a trajetória das metas".

As projeções oficiais para a inflação em 2009 e 2010 subiram na comparação com o previsto em junho, diz a ata. A alta dos preços esperada para este ano, porém, está "ao redor" da meta de 4,5%. Para o próximo ano, a projeção ainda está abaixo do centro da meta.

O economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, avaliou que essa menção mostra que o Banco Central está tranquilo com o quadro inflacionário. Para ele, a parada na trajetória de queda nos juros claramente sinalizada pelo Copom deve-se à intenção da autoridade monetária de acompanhar os efeitos defasados, na economia, dos cortes de juros feitos até agora e, também, das medidas fiscais - desonerações tributárias e aumento de gastos públicos.

"A parada é mais para o BC acompanhar os efeitos defasados das medidas adotadas. Não é por medo de a inflação subir, mas sim para esperar qual será a reação da economia aos estímulos", disse o economista, afirmando que uma nova queda na Selic só ocorreria numa situação atípica, se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação, caísse muito a partir de agosto e se houvesse uma recaída na atividade econômica, "o que é dificílimo de acontecer".

Na ata, os diretores do Comitê citam que há poucos riscos para a inflação. No curto prazo, o principal foco de atenção está nos contratos indexados, como as tarifas públicas, e numa eventual alta do preço das commodities. Em um horizonte mais longo, a atenção está em um eventual descasamento entre a demanda e a oferta.

TRADUZINDO A ATA

Ata da reunião do Copom de julho indica fim do corte da taxa Selic

"Apesar de alguns membros entenderem que haveria respaldo para manter inalterada a taxa já nesta reunião, houve consenso de que o balanço de riscos ainda justificaria estímulo monetário residual."

Sem alta da inflação, houve espaço para mais um corte "residual" do juro. Mas foi cogitada a opção de manter a taxa inalterada.

"Uma postura mais cautelosa contribuirá para mitigar o risco de reversões abruptas da política monetária no futuro."

Ser conservador agora diminui o risco de altas bruscas do juro no futuro, caso a inflação suba.

"Decisões sobre a evolução da taxa têm que levar em conta a magnitude do movimento realizado desde janeiro, cujos impactos ficarão evidentes ao longo do tempo."

Ainda é preciso esperar o impacto dos cortes da Selic realizados desde o início do ano.

"A acomodação da demanda criou importante margem de ociosidade dos fatores de produção, que não deve ser eliminada rapidamente."

A crise diminuiu o consumo e o uso da capacidade de produção das fábricas, o que não deve mudar rapidamente.

"Os riscos derivam, no curto prazo, da atuação de mecanismos de reajuste e uma eventual elevação dos preços de commodities."

No curto prazo, a indexação de contratos, como tarifas públicas, e a alta das commodities, como soja e trigo, são os maiores riscos inflacionários.

"No médio prazo, o risco advém dos efeitos, cumulativos e defasados, da distensão das condições financeiras sobre a evolução da demanda doméstica."

No médio prazo, o risco pode ser gerado por um eventual aumento do consumo gerado pela queda dos juros e aumento do crédito.

"Aversão ao risco e aperto das condições de liquidez internacional continuam impondo ajuste no balanço de pagamentos, mas mostram sensível abrandamento."

O conservadorismo dos investidores e oferta de crédito apresentaram melhora.