Título: Indústria tem queda recorde de 13,4% no semestre
Autor: Chiarini, Adriana; Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2009, Economia, p. B4
Recuperação não impediu o pior resultado desde 1975, quando a pesquisa do IBGE começou a ser realizada
Adriana Chiarini e Alessandra Saraiva
O impacto da crise econômica global no Brasil levou o primeiro semestre deste ano à queda recorde da produção industrial de 13,4% em relação a igual período do ano anterior. Desde que a pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) começou a ser realizada, em 1975, nunca houve uma queda tão grande.
A recuperação da produção industrial no período de dezembro - mês que marcou o fundo do poço para a indústria - até junho foi de 7,9%, resultado insuficiente para compensar a queda de 20% ocorrida desde o início do agravamento da crise, em setembro, até dezembro. De maio para junho, a alta foi de 0,2%.
"Essa recuperação de 7,9% é um acréscimo muito discreto em relação à queda anterior", analisa o consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sílvio Sales. Além disso, ele lembra que no ano passado, até o terceiro trimestre, a produção industrial estava crescendo a taxas muito elevadas.
A base alta, associada à queda no quarto trimestre, ainda não compensada, resulta em taxas negativas nas comparações com os mesmos períodos anteriores em junho (-10,9%), no segundo trimestre (-12,3%), no primeiro semestre (-13,4%) e nos 12 meses acumulados até junho (-6,2%).
Para a gerente de Análise da Indústria do IBGE, Isabella Nunes, os resultados brasileiros devem ser relativizados pelo que acontece em outros países. "O mundo inteiro está com queda recorde no primeiro semestre. O Brasil está liderando a recuperação na América Latina, e, no mundo, só perde de países asiáticos, como a China." Ela observou que "a indústria recupera na margem e reduz o ritmo de queda na comparação com ano passado".
Para a analista da Tendências Consultoria Ariadne Vitoriano, a indústria deve seguir a tendência de crescimento em relação ao mês anterior e a redução da queda em relação ao ano passado, fechando o ano em -8,7%, mas com crescimento de 9% para 2010.
Sales também considera que as perspectivas são de melhora para a indústria. "Os indicadores mostram isso. As expectativas empresariais e de consumidores, os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE), todos apontam nessa direção."
VEÍCULOS
Um dos fatores que mais contribuíram para a redução recorde da produção industrial no primeiro semestre foi a queda dos veículos automotores, de 23,6% ante igual período de 2008. Outro destaque negativo foi o setor de material eletroeletrônico e equipamentos de comunicações, com -40,1% na mesma comparação.
"A queda desses setores foi toda no quarto trimestre", disse Isabella Nunes. A produção de veículos automotores caiu 54,4% de setembro para dezembro, depois cresceu 69% de lá até junho, mas ainda 23% abaixo de setembro. Com o material eletroeletrônico e equipamentos de comunicação, houve queda de produção de 54,5% de setembro para dezembro e expansão de 52,5% de dezembro para junho. Ainda assim, a produção é 30,7% menor que em setembro.
A queda da produção de veículos automotores no primeiro semestre foi a maior do setor para o período desde o começo da série histórica atualizada pelo IBGE, iniciada em 1991, de acordo com o economista da coordenação da indústria do instituto André Macedo.
Ele observou que a produção de veículos afeta outras indústrias, como metalúrgica; produtos químicos; de borracha e de plásticos. "Por influência do recuo na produção da indústria automotiva, a produção dessas outras indústrias, que participam da produção de veículos automotores, também sofreu", comentou.