Título: Sarney diz que cedeu fantasma para o Conselho Editorial
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2009, Nacional, p. A4

Senador afirma que Gabriela Mendes, mesmo fazendo estágio na Caixa, dá expediente de 7h às 13h no Senado

Rodrigo Rangel e Leandro Colon

Em nota divulgada ontem, a assessoria do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reconheceu que a estudante Gabriela Aragão Guimarães Mendes, apesar de formalmente lotada no gabinete do próprio Sarney, não dá expediente lá. Na tentativa de negar reportagem em que o Estado revelou que Gabriela é funcionária fantasma, a nota diz que a estudante, logo depois de ser nomeada para o gabinete de Sarney, foi "cedida" para o Conselho Editorial do Senado.

Incluída desde janeiro de 2007 na folha de pagamento do Senado, Gabriela é filha de um dos ajudantes de ordem de Sarney, Aluísio Mendes Filho, homem da extrema confiança do senador. A nota da assessoria de Sarney tem outras lacunas. Nos boletins oficiais do Senado e na ficha funcional de Gabriela, à qual o Estado teve acesso, não há menção a nenhuma transferência ou cessão de Gabriela para o Conselho Editorial.

Conforme revelou a reportagem, apesar de receber salário do Senado, Gabriela, de 25 anos, dá expediente no edifício sede da Caixa Econômica Federal, onde é estagiária de direito. O estágio da jovem é no período da tarde. Como não podia negar a ocupação de Gabriela na Caixa, a assessoria de Sarney afirmou que o expediente da estudante no Senado é das 7h às 13h. Ainda que Gabriela comparecesse ao trabalho, essa jornada seria insuficiente - como assessora parlamentar, ela teria de cumprir 40 horas semanais.

Uma declaração da Caixa Econômica Federal anexada à nota informa ainda que Gabriela entra no estágio às 13 horas - o que deixa outra dúvida: como ela pode sair do Senado às 13 horas e estar no estágio às 13 horas? A nota não menciona, também, o fato de Gabriela ser filha de um assessor de Sarney. O salário da estudante no Senado é de R$ 1,2 mil, mais R$ 600 de auxílio-alimentação. Na terça-feira, procurada pelo Estado, a mãe de Gabriela afirmou que não sabia que a filha tinha um cargo no Senado.