Título: BNDES tem de desmamar mercado, diz Armínio
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2009, Economia, p. B5

Para ex-presidente do BC, banco precisa ter cuidado para não inibir o desenvolvimento do mercado de capitais; Coutinho descarta ?inibição?

Mônica Ciarelli, RIO

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, foi provocativo ao comentar ontem que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) precisa ter cuidado para não acabar inibindo o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

Segundo ele, o banco teve um papel importante no período de maior impacto da crise global, entre o final do ano passado e o início de 2009, ao injetar liquidez para o setor produtivo. Entretanto, agora que, em sua avaliação, o pior já passou e o acesso às linhas de crédito estão se normalizando, o BNDES precisa começar a "desmamar" o mercado.

"É muito conveniente para o empresário ir ao BNDES e pegar dinheiro de longo prazo barato", disse. Em palestra durante um seminário sobre o Novo Plano Diretor do Mercado de Capitais, Fraga brincou ao afirmar que faria uma provocação ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, mesmo sem ele ainda ter chegado para compor a mesa do evento.

Em tom de advertência, lembrou que o banco estatal de fomento deve se concentrar em segmentos onde existam falhas de mercado que dificultem o acesso a financiamento e, com isso, à expansão. "O BNDES tem que trabalhar de forma a complementar o mercado e não de forma substitutiva", disse.

Apesar de estar ausente da mesa de debates durante as críticas de Fraga, Luciano Coutinho foi enfático mais tarde, ao explicar aos jornalistas que o BNDES "nunca inibiu e nem irá inibir" o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

Coutinho argumentou que o BNDES sempre foi um grande fomentador desse segmento e tem em suas atuações prova desse comprometimento com o fortalecimento do mercado de capitais. Ele espera um reaquecimento para o segundo semestre, o que, acredita, poderia aliviar o peso sobre os pedidos de financiamento de empresas ao BNDES.

Armínio Fraga cobrou também do governo o fortalecimento das agências reguladoras ligadas aos setores de energia e petróleo. Segundo ele, o governo tem exemplos muitos positivos ao dar independência para entidades como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Banco Central e Comissão de Valores de Mobiliários (CVM) e não deveria se afastar desse padrão.

"É um modelo de sucesso de vários anos e não vejo por que não repetir em outras áreas", afirmou Armínio. No governo do presidente Lula, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) perdeu alguns poderes, como, por exemplo, a escolha das áreas de exploração de petróleo e gás a serem colocadas à venda em leilão, que passou para o Conselho Nacional de Política Energética.