Título: Casos de gripe suína chegam a mil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2009, Vida &, p. A16

O Brasil ultrapassou ontem, com a confirmação de mais 52 casos, a barreira de mil infectados pela gripe suína. Os últimos dados do Ministério da Saúde apontam que, desde o surgimento dos primeiros doentes no País, no início de maio, 1.027 pessoas contraíram o vírus A(H1N1). Até agora, dois pacientes morreram, um no Rio Grande do Sul e outro em São Paulo.

Com o aumento do número de infectados, outras mortes são esperadas, dizem os especialistas. A doença tem letalidade mundial de cerca de 0,45%, o que corresponderia a aproximadamente 5 mortes no caso do Brasil. "Num primeiro momento, estávamos na fase de contenção dos casos", diz o infectologista David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "O segundo momento é a redução de danos causados pelo aumento dos doentes e circulação do vírus. É nessa fase que estamos entrando agora."

O perfil dos infectados revela que a maioria contraiu a doença fora do País. Até 8 de julho, quando 977 casos haviam sido confirmados, 563 (57,6%) foram de pessoas que se infectaram no exterior - principalmente Argentina, Chile e Estados Unidos - e 278 (28,5%), de transmissão autóctone (ocorrida dentro do território nacional).

São Paulo é o Estado com o maior número de confirmações: 457 infectados. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro aparecem em seguida, com 129 e 111 casos, respectivamente. Os Estados de Rondônia e Roraima são os únicos sem nenhum registro da doença até agora.

RIO GRANDE DO SUL

Ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou a liberação de mais R$ 2 milhões para a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul fortalecer o combate às doenças de maior propagação no frio, entre as quais a gripe A(H1N1), surgida neste ano. "É reforço de recursos para que o Estado possa dar conta da maior demanda por atenção por conta do inverno e das viroses da época", disse, no Palácio Piratini.

O secretário da Saúde, Osmar Terra, afirmou que a verba será usada no pagamento que o Estado faz aos hospitais, médicos e laboratórios pelo atendimento à comunidade, que sempre cresce nesta época do ano. "A gripe A(H1N1) não aumenta a demanda por internações porque tem poucos casos graves, mas aumenta a demanda por consultas e exames", explicou.

Além da verba, o ministério e o governo do Estado ajustaram uma série de iniciativas para monitorar e conter o avanço da gripe no território gaúcho porque entendem que o Rio Grande do Sul é a principal porta de entrada da doença no País. "Aqui temos uma situação singular, que é a fronteira com a Argentina e o Uruguai, que exige um acompanhamento diferenciado", comentou Temporão. "O front do enfrentamento da gripe (suína), para todo o Brasil, é o Rio Grande do Sul", definiu o secretário estadual.

Entre as medidas que entram em vigor nos próximos dias estão o reforço na comunicação para orientar a população sobre medidas preventivas e o apoio do Exército às equipes de vigilância distribuídas por 14 passagens de fronteiras no Estado e mais duas no Paraná.

Ao analisar a perspectiva de propagação da doença, Temporão foi mais cauteloso que Terra. "Não há nenhum risco de epidemia ou disseminação da doença no momento", avaliou, admitindo, no entanto, que "o governo não excluiu nenhum cenário." O secretário gaúcho vem dizendo há alguns dias que a epidemia é inevitável no Estado.

NOVAS UNIDADES

Temporão também anunciou a construção de 16 Unidades de Pronto-Atendimento 24 Horas (UPAs) neste ano e outras 16 em 2010 no Estado. O ministro lembrou que as UPAs do Rio de Janeiro enviam apenas 5% dos pacientes aos hospitais, comprovando que conseguem resolver a maioria dos problemas ainda no atendimento primário.

O investimento do governo federal no Rio Grande do Sul será de R$ 34 milhões nas unidades e de mais R$ 37 milhões por ano no custeio das atividades. O Ministério da Saúde está habilitando 250 UPAs no Brasil.