Título: Corte de gastos é ladainha, diz Bernardo
Autor: Fernandes, Adriana; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2009, Economia, p. B3

Para ministro, discurso é um "bordão surrado" que "não serve ao País"

Renata Veríssimo, BRASÍLIA

Mesmo com o aumento contínuo dos gastos públicos, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que "essa ladainha" de corte das despesas não serve para o Brasil. "O Brasil é mais complexo do que só falar: corta gasto, corta gasto... Esse discurso é surrado. Está vencido. Nós temos que ter rigor fiscal, mas não dá para ficar só com esse bordão surrado."

No fim do ano passado, lembrou Bernardo, o País foi "arrastado" pela crise mundial, o que exigiu do governo medidas para evitar que o tombo da economia fosse maior neste ano. Entre os países do G-20, o Brasil foi o que mais criou empregos. No primeiro semestre, a conta do seguro-desemprego foi de R$ 10 milhões, mas poderia ter sido muito maior, se o governo não tivesse adotado medidas para mitigar os efeitos da crise e impedir a alta do desemprego.

Na avaliação do ministro, o País está vivendo um momento diferente. O Brasil, quando comparado com o quadro internacional, terá o melhor resultado fiscal este ano dentro do G-20, com exceção da Argentina. Ele ressaltou que os Estados Unidos terão um déficit nominal de 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o Brasil terá um déficit de 1,9% do PIB.

"As pessoas estão querendo medir a realidade com uma régua que existia antes da crise e a realidade mudou completamente. Essa régua não está servindo para fazer uma boa medida", disse o ministro, após o 7º Congresso Internacional Brasil Competitivo.

PAC 2

O ministro confirmou ainda, como informou ontem o Estado, que o governo Lula está preparando uma carteira de investimentos para deixar para o próximo governo. Mas isso não vai implicar aumento dos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ele lembrou que o PAC já foi ampliado de R$ 500 bilhões para R$ 650 bilhões, e isso não esgota todas as necessidades do Brasil.

"Se o País crescer como estamos prevendo, vai precisar cada vez mais de infraestrutura. O próximo governo, além de ter de resolver a questão do financiamento das obras - se vai ser do orçamento, do BNDES ou internacional -, vai precisar ter o projeto. E nós vamos facilitar isso." Segundo Bernardo, o desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de deixar para o sucessor uma carteira de investimento se deve à dificuldade que o atual governo teve na articulação do PAC por falta de projetos já desenvolvidos.

"A decisão de executar será do próximo governo. Mas tendo opções e um trabalho já desenvolvido, ele poderá fazer isso com mais rapidez", disse o ministro. Ele argumentou que para realizar um projeto de engenharia e obter a licença ambiental é necessário um ano e meio a dois anos. A ideia, afirmou, é que o atual governo já deixe o projeto encaminhado, para que se possa ganhar tempo.