Título: Custeio cresce mais que gasto com obras
Autor: Fernandes, Adriana; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2009, Economia, p. B3
Augustin admite que despesa da máquina subiu além do "desejado"
Adriana Fernandes e Fabio Graner, BRASÍLIA
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, admitiu ontem que as despesas de custeio do governo se expandiram em volume não "desejado" e acima do ritmo de crescimento dos gastos com investimentos. Até agora, o discurso era de que os investimentos em obras e programas de governo estavam crescendo e melhorando o perfil de despesas públicas, mesmo com adoção da política anticíclica para enfrentar a crise internacional.
Enquanto as despesas com custeio da máquina pública cresceram 22,8% no primeiro semestre, os gastos com investimento subiram 21,8%. Nos dois casos, a expansão é maior do que a alta de 17,1% de todas as despesas no mesmo período.
O secretário previu uma melhora a partir do segundo semestre. Ele não explicou, no entanto, os motivos do aumento do gasto com custeio. Ressaltou, porém, que há despesas importantes que podem sem incluídas no rol de gastos que têm ação anticíclica - entre elas, os benefícios do programa Bolsa-Família e gastos com saúde e educação.
O aumento do Bolsa-Família, previsto para setembro, e o pagamento da segunda parcela do reajuste salarial de uma série de categorias de servidores públicos terão impacto ainda maior no quadro de despesas ao longo do ano. Nos bastidores do Ministério da Fazenda, há insatisfação com a falta de empenho dos ministérios em cortar gastos.
Além do alerta, o secretário mostrou uma certa insatisfação com o ritmo de expansão dos investimentos. Para ele, o crescimento dos investimentos "pode ser maior". Até abril, o aumento acumulado dessas despesas era de 26%, e caiu para 21,8% até junho. "O importante é continuam crescendo", atenuou.
Especialista em política fiscal, o economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero, avaliou que o governo será obrigado a recorrer ao Fundo Soberano do Brasil ainda este ano para cumprir a meta de superávit fiscal. Em sua avaliação, a meta fiscal para o próximo ano já está comprometida. "O que vão fazer com essa política anticíclica quando acabar o ciclo?", questiona Montero.