Título: Para geólogos, índice de sucesso do pré-sal deve cair para até 30%
Autor: Lima, Kelly; Freitas, Tatiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2009, Economia, p. B5

Segundo Petrobrás, em 30 poços perfurados até agora, indicador atingiu 87%. Na Bacia de Santos, chegou a 100%

Kelly Lima e Tatiana Freitas, RIO

A queda no índice de sucesso na perfuração de poços exploratórios na região do pré-sal é uma tendência natural. No futuro próximo, deve chegar aos 30%, a mesma média da Bacia de Campos, dizem três geólogos e um consultor, especialistas em pré-sal. "Falar em um índice de sucesso de 100%, de risco zero, é quase uma licença poética", afirmou o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) John Forman.

Ontem, a Petrobrás divulgou comunicado ao mercado informando ter perfurado 30 poços na área do pré-sal, com índice de sucesso de 87%. Na Bacia de Santos, a estatal afirma que a taxa de sucesso até agora é de 100%. Informações preliminares obtidas pelo governo na ANP indicam que foram perfurados, pela Petrobrás e operadoras privadas, um total de 34 poços na camada do pré-sal até hoje. Desses, segundo uma fonte do governo, 31 (cerca de 91%) tinham óleo em condições viáveis de produção.

A nota foi divulgada em resposta à reportagem publicada ontem pelo jornal Valor Econômico indicando que 32% dos poços no pré-sal tiveram resultados insatisfatórios. Com base em dados da ANP, o jornal listou 28 poços, dos quais 9 seriam secos ou subcomerciais.

"A tendência é que o índice de sucesso no pré-sal caia. Se ficar nos 30%, é excelente", afirma o geólogo Giuseppe Baccocoli. Ele lembra que, ao fazer a primeira perfuração numa área para identificar potenciais reservas, o principal alvo é onde há o mais forte indício de óleo, de acordo com a análise sísmica. "Nas demais perfurações, o investidor vai buscando delimitar o reservatório. O trabalho se desloca para as encostas para testar áreas de menor certeza e a taxa de sucesso diminui."

Para o geólogo Marcio Mello, da HRT Petroleum, as estruturas do pré-sal são gigantescas e merecem o título de "bilhete premiado", mesmo que não se mantenha o risco zero, apontado como a principal vantagem dessas áreas. "O índice de sucesso que vamos encontrar no pré-sal - e o tempo vai provar isso -, é o mesmo que existe na Bacia de Campos, ou seja, de cada três poços perfurados, um encontre reservas. É um nível alto para uma área que promete um volume elevado", destacou.

Na Bacia de Santos, referência para o pré-sal, 15 poços perfurados justificaram a euforia do governo. Até a perfuração do 15º poço, o segundo na área do CM-S-22, operado pela Exxon, com parceria da Petrobrás, todos os demais haviam registrado algum indício de óleo ou gás. Em junho, quando a Exxon confirmou o primeiro poço seco, o mercado começou a questionar o potencial daquela área, onde já haviam sido identificados até 12 bilhões de barris (entre Tupi e Iara), com potencial para muito mais.

O próprio ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que disse que só voltará a se pronunciar a respeito depois que a ANP concluir nova análise dos poços, já chegou a se referir à área do pré-sal em toda a extensão geológica (800 quilômetros de comprimento por 200 quilômetros de largura) com potencial de até 150 bilhões de barris.

"Muito se falou sobre índice de sucesso do pré-sal. Inicialmente falaram em uma grande lagoa de petróleo que se estendia por toda essa área de 160 mil km². Depois, que essa formação rochosa teria algumas acumulações ao longo da extensão. Hoje, pelos estudos disponíveis, se sabe que as maiores acumulações do pré-sal se dão no Polo de Tupi. Aos poucos, vamos aprendendo mais sobre essa nova fronteira geológica", comentou um executivo do setor, que pediu para não ser identificado.

A média mundial da taxa de sucesso gira hoje em torno de 10% ou 12%, com picos máximos de 25% e 30%, de acordo com especialistas do setor. Já para áreas novas, nunca exploradas, como é o caso do pré-sal brasileiro, um indicador em torno de 5% seria razoável.

Segundo o diretor executivo da DCT Energia, Ericson de Paula, a atividade de exploração é feita por aproximação e erro. "Quanto mais a operadora fura, mais eleva a precisão da exploração e o surgimento de poços secos acaba sendo uma consequência. Encontrar poços secos não é necessariamente ruim. Faz parte do processo."

O especialista ainda argumentou que, como não há antecedente histórico para a área do pré-sal, não é possível estimar qual seria um índice razoável de sucesso para a área. O fato de as empresas encontrarem poços secos, na sua avaliação, não vai diminuir o apetite das operadoras privadas pelo pré-sal. "Até porque não há tantas novas fronteiras para explorar e, entre as disponíveis, o Brasil é o mercado com as regras mais estáveis."

COLABOROU LEONARDO GOY