Título: Candidato de Lupi vence e provoca racha no Codefat
Autor: Sobral, Isabel
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2009, Economia, p. B11

Em reação à escolha de Luigi Nese, confederações da indústria, do comércio, da agricultura e das instituições financeiras se retiram do órgão

Isabel Sobral, BRASÍLIA

Após uma manobra política do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi eleito ontem para presidir o conselho deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), no biênio 2009/2010, o presidente da recém-criada Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, patrocinada pelo próprio Lupi. Numa reação surpreendente, outras entidades empresariais - Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Comércio (CNC), da Agricultura (CNA) e das Instituições Financeiras (Consif) - se rebelaram contra a manobra e anunciaram sua saída do Codefat.

Criado há 19 anos, o conselho controla o patrimônio de quase R$ 160 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que paga seguro-desemprego, abono salarial e financia projetos do setor produtivo. Ao eleger um aliado, Lupi mantém a influência no conselho no ano eleitoral de 2010, dizem empresários. Mas não se sabe como funcionará agora o Codefat, já que ficará apenas com duas entidades de empresários.

Além da CNS, permanecerá na bancada patronal a recém-criada Confederação Nacional do Turismo (CNTur). Segundo os representantes das entidades que se retiraram do conselho, Lupi telefonou aos conselheiros para pressioná-los a votar em Nese e evitar que Fernando Antonio Rodriguez, representante da CNA, assumisse a presidência do Codefat.

A escolha de Rodriguez teria sido acertada previamente entre os integrantes do Codefat. Por lei, a cada dois anos há um rodízio, na presidência, entre as bancadas dos empresários, trabalhadores e governo. E, por um acordo informal, todos aprovam o nome indicado.

Nese negou a existência de acordo prévio em torno do representante da CNA e disse que tinha o direito de lançar candidatura própria. "Não houve interferência do ministro."

"Renunciamos aos cargos no conselho porque houve uma interferência clara do ministro, ele ligou para todos os conselheiros", rebateu o representante da CNI, Lourival Dantas.

ÂNIMOS EXALTADOS

Em nota conjunta, as entidades que se retiraram do Codefat disseram que a atuação de Lupi "agride o princípio democrático que garantiu equilíbrio e harmonia na convivência entre as bancadas" no conselho, formado pelas centrais sindicais, entidades patronais e governo.

Na reunião, de ânimos muito exaltados, as quatro entidades rebeladas tentaram fazer Nese desistir da eleição. Mas, após constatarem que haveria apoio a seu nome por causa da sustentação do ministro, decidiram sair da sala e retirar a candidatura.

Os representantes dos Ministérios da Previdência Social, da Agricultura e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) se abstiveram de votar e defenderam a manutenção do acordo que elegeria o candidato da CNA.

"Essa votação foi uma farsa", disparou o representante da CNC, Roberto Nogueira. A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, disse que a manobra trouxe de volta o peleguismo. Segundo ela, Lupi teria se valido do poder que o governo tem sobre as centrais sindicais, ao dividir entre as entidades a receita do Imposto Sindical. "Os sindicatos hoje são patrocinados pelo Ministério do Trabalho. Isso reencarna o peleguismo que tanto lutamos para acabar."

Segundo a senadora, "não há chance" de as quatro entidades voltarem atrás na decisão de abandonar o Codefat. "Como não sabemos quem é essa pessoa que assumiu agora, não vamos colocar nossos CPFs em jogo." Lupi negou a interferência no processo de sucessão. "Não trabalhei por ninguém e desafio alguém a provar que fiz pressão."