Título: É cedo para retirar estímulos, dizem Mantega e Geithner
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2009, Economia, p. B6

Ministro brasileiro e secretário americano concordam quanto a necessidade de manter políticas anticíclicas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, concordam que é cedo para reduzir os estímulos econômicos, apesar dos sinais de recuperação das economias. "Concluímos que precisamos manter as políticas anticíclicas", disse Mantega após encontro com Geithner em Washington.

O ministro argumentou que, apesar do custo dessas políticas, as finanças públicas sofreriam mais com a crise se não houvesse o estímulo. No Brasil, acrescentou, o Produto Interno Bruto (PIB) seria 1,5 a 2,0 pontos porcentuais menor. Segundo ele, graças a essas ações, o PIB crescerá 1% já em 2009. "Apagamos o incêndio. Agora, chegou a hora de reconstruir a casa", disse o ministro. Segundo Mantega, "os países emergentes superaram a crise econômica com mais facilidade do que os avançados". Agora, "não há mais riscos de quebradeiras no sistema financeiro, e o crédito retornou a patamares pré-crise".

A economia americana deve voltar a crescer neste terceiro trimestre, enquanto o Brasil já se expandiu no segundo trimestre, disse. "Fizemos uma avaliação sobre o cenário global e concluímos que estamos deixando a crise para trás."

A crise internacional começou a ser superada após a adoção de políticas contracíclicas pela maioria dos países, com o aumento dos gastos governamentais. "Os Estados Unidos foram os que mais gastaram. O Brasil também levou adiante essas políticas, mas precisou gastar menos", disse Mantega.

Indagado pelo Estado se isso significava uma crítica ao programa de estímulo americano, o ministro respondeu que não. "Aqui, o buraco foi mais embaixo. Se estivesse nos EUA, teria adotado uma política parecida com a deles (da administração do presidente Barack Obama)."

A razão para o Brasil ter gastado menos foi a situação econômica melhor do País, se comparada com a americana, segundo Mantega. O Brasil, disse, injetou no máximo US$ 30 bilhões na economia, enquanto os EUA planejam gastar US$ 787 bilhões. Apesar dos gastos menores, tanto pelo fato de o PIB ser menor como pelo estado menos grave da economia brasileira, as políticas contracíclicas do País tiveram qualidade, ressaltou Mantega.

Segundo o ministro, ao deixar de arrecadar o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) na venda de automóveis, o governo permitiu que mais 400 mil veículos fossem vendidos, com maior arrecadação. "Outros países gastaram mais e com resultados piores." Mantega disse que a expectativa é de que o superávit primário do Brasil volte a crescer em 2010 e o déficit fiscal seja zerado a partir de 2011 ou 2012.

RECEITA

Mantega negou que tenha convidado Paulo Nogueira Batista, representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), para assumir a Receita Federal. Seu nome, junto com o de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está entre os mais citados para substituir o da ex-secretária Lina Vieira. "Não sei quem inventou essa história"