Título: A importância dessa visita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2009, Notas & Informações, p. A3

Brasil e México respondem por mais de 70% de tudo o que a América Latina produz. "Imaginem o que podemos fazer juntos", sugeriu em São Paulo, durante encontro com empresários, o presidente mexicano, Felipe Calderón, que acaba de concluir uma visita de três dias ao Brasil. Calderón reuniu-se com o presidente Lula em Brasília, visitou o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobrás no Rio de Janeiro e ouviu pedidos de estreitamento das relações entre os dois países.

Há muita coisa, de fato, que Brasil e México podem fazer juntos, sobretudo na ampliação do comércio entre eles. O comércio bilateral cresceu muito nos últimos quatro ou cinco anos, mas ainda tem peso pouco expressivo na balança comercial de cada um dos países. As exportações brasileiras para o México em 2008 representaram pouco mais de 2% do total exportado pelo País. Já as importações de produtos mexicanos não passaram de 1,8% de tudo o que Brasil importou no ano passado. Esses números não condizem com a importância dos dois países na economia latino-americana e com o potencial de seu comércio externo.

Por essa razão, nos dias que antecederam a chegada de Calderón ao Brasil, empresários dos dois países enviaram documentos aos respectivos governos sugerindo o estabelecimento de um "acordo amplo" - com o fim das tarifas de importação para a maior parte dos produtos industriais - por meio da ampliação dos acordos de complementação econômica atualmente em vigor para a indústria automobilística e para uma lista limitada de produtos. Evitaram o emprego da expressão "acordo de livre comércio", que numa determinada época assustava os empresários brasileiros, mas agora é vista com desconfiança pelo lado mexicano.

O marco jurídico que baliza as relações comerciais entre o Mercosul e o México é o acordo de complementação econômica de 5 de julho de 2002. Ele estabelece as bases para a eventual criação da área de livre comércio entre o bloco e o México. Pouco se avançou na direção dessa área, por causa dos compromissos recíprocos dos países do Mercosul, que limitam a possibilidade de eles fecharem acordos com terceiros países, e em razão da resistência de alguns setores do empresariado dos dois lados a aceitar a ampliação das facilidades comerciais.

É forte, atualmente, a oposição do empresariado mexicano à ampliação do número de acordos de livre comércio, que o México já firmou com 44 países. Os mexicanos, que já convivem com a forte presença de produtos americanos em seu mercado, em razão do Nafta, temem que um acordo abra as portas do país para a entrada de produtos agroindustriais brasileiros, que estão entre os mais competitivos do mundo.

No encontro com o empresariado, em São Paulo, Calderón chegou a declarar que um acordo de livre comércio com o Brasil é um "tabu", por ser "complexo e difícil", mas admitiu que ele poderia ser benéfico para os dois países. A discussão de um acordo desse tipo deve ter evoluído, pois a declaração conjunta dos dois presidentes diz que eles "solicitaram a suas equipes que explorem todas as opções que permitam ampliar o comércio e o investimento, incluindo a possível negociação de um acordo de livre comércio". Os presidentes pediram que os empresários dos dois países apoiem essa iniciativa, "que terá impactos positivos no comércio, investimento e emprego".

Se a proposta prosperar, será muito proveitoso para os dois países. O México tornou-se excessivamente dependente de suas relações com os EUA, que absorvem mais de 80% de suas exportações. Por isso, sentiu muito mais duramente os efeitos da crise internacional do que o Brasil. Procura agora reduzir essa dependência, buscando parcerias mais intensas com países com os quais pode fortalecer suas relações comerciais, como o Brasil. O Brasil, de sua parte, poderá ampliar as exportações para a segunda principal economia da América Latina. Assim, os dois países só têm a ganhar com a ampliação de sua parceria. Afinal, como disse Calderón ao jornal O Globo, "é um absurdo que tenhamos apenas 1% de nosso comércio entre os dois países".