Título: Por aliança com PMDB, PT acumula derrotas
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2009, Nacional, p. A7

Parceria considerada decisiva por Lula garantiu ampla fatia de poder

Marcelo de Moraes, BRASÍLIA

Se a parceria com o PMDB é considerada decisiva pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um bom resultado nas eleições de 2010, seu custo para o PT tem sido alto. Desde que, no início do ano, Lula resolveu bancar a parceria preferencial com o PMDB em troca da possibilidade de coligação em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, cada triunfo político dos peemedebistas tem produzido um resultado amargo para os petistas.

Apenas com a perspectiva de fechar a aliança eleitoral com o PT, os peemedebistas já conseguiram claras vantagens. A primeira e mais nítida foi obter o controle político do Congresso. Nos últimos anos, nenhum partido comandava simultaneamente Câmara e Senado, justamente para não acumular tanta força. Com apoio de Lula, porém, o PMDB obteve as duas presidências.

No caso do Senado, a situação foi pior porque a bancada petista chegou a lançar uma candidatura própria, com o senador Tião Viana (AC). Apesar disso, Lula defendeu abertamente o nome de José Sarney (PMDB-AP) e trabalhou para que fosse eleito, derrotando o candidato apoiado pelos senadores de seu partido.

O peso da aliança com o PMDB provocou outro estrago grave para os senadores petistas. Eles foram obrigados por Lula e pelo presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), a defender Sarney das acusações que sofreu por suposto envolvimento em irregularidades. A bancada petista chegou a fechar uma posição pública defendendo a abertura de investigação contra Sarney dentro do Conselho de Ética.

O saldo dessa pressão foi o anúncio da desfiliação do senador Flávio Arns (PR), a aceleração da ida da senadora Marina Silva (AC) para o PV e a saída do líder da bancada, Aloizio Mercadante (SP), do posto que ocupava.

Para o PMDB, no sentido inverso, essa movimentação foi um sucesso. Os votos petistas serviram para blindar Sarney na condição de presidente do Senado. Além disso, nos últimos meses, o PMDB conseguiu fortalecer ainda mais sua participação na gestão de áreas estratégicas no governo. Desde que foi nomeado ministro de Minas e Energia, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) só aumentou sua influência na discussão sobre a exploração de petróleo na camada do pré-sal.

O PMDB conseguiu emplacar na semana passada o nome de José Lima de Andrade na presidência da BR Distribuidora, no lugar do petista José Eduardo Dutra.

Triunfos do aliado

02/02

Interessado em controlar a presidência da Câmara e do Senado, o PMDB pressiona governo a apoiar Michel Temer (PMDB-SP) e José Sarney (PMDB-AP) para os postos. O presidente Lula garante a vitória dos dois, mesmo passando por cima da candidatura de Tião Viana (PT-AC) no Senado

14/07

Com a crise no Senado, PMDB toma o lugar do PT na tropa de choque do Planalto. Na CPI da Petrobrás, é escolhido relator peemedebista Romero Jucá (RR), líder do governo. Jucá coordena na CPI e em outras comissões a articulação para evitar propostas contra o governo, como a convocação da ministra Dilma Rousseff

14/08

O presidente Lula aceita ampliar ainda mais o espaço do PMDB no governo, entregando ao partido mais cargos estratégicos. Com a saída do petista José Eduardo Dutra do comando da BR Distribuidora, é escolhido como substituto no cargo o peemedebista José Lima de Andrade Neto

18/08

Apesar de integrar base, PMDB na Câmara apoia propostas contra governo. Vota a favor da restituição de juros mais baixos para o pagamento de dívidas com a União, na MP 462, atendendo a interesses eleitorais. Da base, só o PT vota contra

20/08

Para preservar Sarney, Lula e a direção do PT obrigam a bancada no Senado a votar contra qualquer pedido de investigação no Conselho de Ética. O episódio motiva o anúncio da desfiliação de Flávio Arns (PT-PR)