Título: Senado valida ato secreto que favorece sobrinha de Sarney
Autor: Colon, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2009, Nacional, p. A4

Decisão foi publicada no "Diário Oficial" no mesmo dia em que o Conselho de Ética o livrou de processos

No mesmo dia em que o senador José Sarney (PMDB-AP) foi absolvido pelo Conselho de Ética, aliados e parentes do presidente do Senado nomeados por atos secretos foram oficialmente anistiados e continuarão empregados na Casa. A diretoria-geral validou os boletins sigilosos que deram emprego a Maria do Carmo de Castro Macieira (sobrinha do senador), Nathalie Rondeau (filha do ex-ministro e afilhado político Silas Rondeau) e Alba Leite Nunes Lima, mulher de Chiquinho Escórcio, aliado do presidente do Senado.

Os três estão incluídos na relação de 45 atos secretos validados pela diretoria-geral referentes a nomeações. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União de quarta-feira, mesmo dia em que o Conselho de Ética livrou Sarney de processos de cassação por quebra de decoro, inclusive os relacionados ao envolvimento dele com esses atos, como revelado pelo Estado.

Para validar as medidas, a diretoria-geral alega que, apesar da nomeação secreta, essas pessoas têm exercido suas funções devidamente. Além desses 45, outros 34 servidores se encontram na mesma situação e aguardam uma decisão. Entre eles está Henrique Dias Bernardes, que ganhou emprego em abril de 2008, quando era namorado de uma neta de Sarney. Em discurso no dia 5 de agosto, Sarney afirmou aos senadores que anulara os atos secretos. "Anulei todos eles", disse, em referência à medida tomada no dia 13 de julho, quando cancelou os boletins identificados.

Aos poucos, porém, boa parte disso foi sendo validada. Na semana passada, Sarney validou 80 medidas ocultadas que concederam gratificações aos funcionários. Ou seja, dos 511 atos secretos identificados pela comissão de sindicância em junho, quase um terço já foi regularizado. Grande parte do restante se refere a exonerações e comissões de trabalho extintas. A diretoria-geral analisa ainda mais 468 atos descobertos na semana passada, inseridos de forma oculta pelo ex-diretor Ralph Siqueira.

Casada com um sobrinho de Marly, mulher de Sarney, Maria do Carmo Macieira foi nomeada em 29 de junho de 2005 para o gabinete da então senadora e hoje governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), filha do presidente do Senado. Hoje, é servidora de Mauro Fecury (PMDB-MA), suplente de Roseana.

Sarney chegou a afirmar aos senadores que a desconhecia. "Eu confesso que não sei quem é." Depois, admitiu. "Perdão, ela foi nomeada pela senadora Roseana."

MODELO

A aspirante a modelo Nathalie Rondeau, 23 anos, foi nomeada, por ato secreto, em 26 de agosto de 2005 para trabalhar no Conselho Editorial, órgão presidido por Sarney, responsável pelas publicações do Senado.

Ela é filha de Silas Rondeau, que foi ministro de Minas e Energia por indicação do senador. Sarney tentou desvincular-se, na ocasião, da nomeação da jovem. "Não é minha parenta. Não tenho nenhuma ligação de parentesco com ela", disse. Agora, quatro anos depois de ganhar o emprego, Nathalie vai continuar como funcionária. Assim como outros cinco colegas do Conselho Editorial.

Em 14 de março do ano passado, por exemplo, o conselho foi palco da nomeação secreta de Alba Leite Nunes Lima. Ela é mulher de Chiquinho Escórcio, uma espécie de faz-tudo da família Sarney.

Hoje, Alba está lotada no gabinete do senador. Chiquinho é representante do governo do Maranhão em Brasília. Ele já foi assessor da presidência do Senado, função que perdeu em 2007 após denúncia de que estaria agindo como espião contra adversários do então presidente Renan Calheiros (PMDB-AL).

Maria do Carmo Macieira

É sobrinha do senador José Sarney (PMDB-AP). Foi nomeada no Senado por ato secreto, em 29 de junho de 2005, para trabalhar no gabinete da prima, a então senadora e hoje governadora Roseana Sarney (PMDB-MA). Maria do Carmo agora é lotada no gabinete de Mauro Fecury (PMDB-MA), suplente de Roseana

Nathalie Rondeau

Aspirante a modelo, a jovem foi nomeada por ato secreto em 26 de agosto de 2005 para trabalhar no Conselho Editorial do Senado, órgão presidido por Sarney. A jovem entrou no Senado um mês e meio depois de seu pai, Silas Rondeau, ser indicado por Sarney para o Ministério de Minas e Energia

Alba Leide Nunes Lima

É mulher de Chiquinho Escórcio, uma espécie de assessor permanente de Sarney. Foi nomeada para trabalhar no Conselho Editorial em março de 2008. No Portal da Transparência do Senado, aparece com lotação no gabinete de Sarney. Escórcio hoje é representante do governo do Maranhão em Brasília

Conselheiros

Pelo menos cinco funcionários nomeados para o Conselho Editorial foram anistiados, além de vários servidores lotados na diretoria-geral. Outros 34 aguardam decisão da diretoria-geral, entre eles Henrique Dias Bernardes, nomeado em abril do ano passado, quando era namorado de uma neta de Sarney