Título: Ibovespa fecha acima de 60 mil pontos
Autor: Modé,Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2009, Economia, p. B6

Bolsa sobe 1,94% e dólar chega a romper a barreira de R$ 1,80

O mercado financeiro brasileiro rompeu ontem duas barreiras importantes: o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou acima de 60 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2008, renovando a máxima de 2009. O índice fechou em 60.410 pontos. O número de negócios no pregão bateu recorde, com 494.430 operações. O dólar chegou a ser negociado abaixo de R$ 1,80, o que não ocorria desde 22 de setembro de 2008 - antes do fim da sessão, a moeda acabou subindo um pouco e encerrou o dia valendo R$ 1,80.

Segundo analistas, a tendência para os próximos meses é de valorização tanto para o real quanto para as ações brasileiras. Basicamente, por duas razões. A primeira, como explica o estrategista do banco WestLB, Roberto Padovani, está relacionada à diminuição da chamada aversão ao risco no mercado global.

""Os indicadores econômicos estão melhorando no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos"", explicou. ""Isso não quer dizer que o país já crescerá dentro de seu potencial, mas mostra que há informações suficientes para que se trace um cenário. Como não haverá uma depressão nem se espera a quebra de algum grande banco, os investidores estão mais dispostos a correr riscos.""

Ao panorama externo melhor soma-se a percepção positiva dos investidores a respeito do Brasil. ""Aqui, as regras são conhecidas. O País não fez nenhuma maluquice na área econômica na última década"", disse Padovani. ""Além disso, os bancos brasileiros não tiveram uma crise bancária. Portanto, estão prontos para voltar logo a conceder crédito, o que fará a economia crescer com vigor mais cedo do que esperava.""

A economista-chefe da Corretora Icap Brasil, Inês Filipa, faz coro. ""Aqui, a recuperação está ocorrendo muito mais rapidamente do que no exterior"", argumentou. ""Há fundamentos econômicos que justificam o Ibovespa a 65 mil pontos no fim do ano."" Ela observa, porém, que esse caminho não será imune a solavancos. ""Provavelmente, vamos assistir a uma realização de lucros em algum momento, mas a tendência para a bolsa é de alta.""

Mais cauteloso, o sócio-gestor da Advisor Asset Management, Andre Delben, prefere separar a análise em duas partes. A primeira, que ele chama de cíclica, diz respeito ao curto prazo. Nessa, as perspectivas para os ativos brasileiros são positivas - a exemplo do que dizem Padovani e Inês. ""Quando me perguntam se a tendência para a bolsa é de alta, respondo que sim, ao menos nos próximos seis meses"", afirmou.

Na outra parte da análise, que ele classifica de estrutural, não se vê otimismo. ""Haverá problemas quando os governos tiverem de adotar as estratégias de saída da crise"", disse. Ele refere-se ao momento em que os países terão de apertar suas políticas fiscal e monetária, que foram afrouxadas para evitar que a recessão global se transformasse em depressão.

""Os riscos são de um aperto cedo demais, o que pode levar a novas recessões, ou de um aperto tardio, o que desembocaria em expectativa inflacionária.""

Até o momento, o real foi uma das moedas que mais se valorizaram em relação ao dólar. No ano, a moeda brasileira ganha 28,4%, atrás apenas (entre as moedas mais importantes) do rand sul-africano, com 30,2%.