Título: OMC teme escalada de retaliações e protecionismo
Autor: Landim,Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/09/2009, economia, p. B11

""Olho por olho, dente por dente"" nas relações entre EUA e China pode afetar comércio mundial, diz Lamy

A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode abrir uma fase nas relações entre os países de ""olho por olho, dente por dente"" e põe a Organização Mundial do Comércio (OMC) em alerta. Para o diretor-geral da entidade, Pascal Lamy, o temor é que a situação criada pelos dois gigantes do comércio provoque retaliações mútuas. Lamy participa na semana que vem da reunião das 20 maiores economias (G-20), nos EUA. Mas admite que os países do grupo desrespeitaram suas próprias promessas de retirar barreiras e distorções criadas no primeiro momento da crise.

Na semana passada, o presidente americano Barack Obama anunciou a criação de uma taxa sobre a importação de pneus chineses, depois de ser pressionado pelos trabalhadores do setor, alegando que os produtos importados estavam tirando empregos. A China respondeu na segunda-feira abrindo uma queixa na OMC e iniciando investigações de dumping contra o frango e autopeças americanos. A disputa chegou a abalar as bolsas de valores.

""Isso é motivo de preocupação"", admitiu Lamy. Ele acredita que os problemas são pelo menos dois. O primeiro: as medidas adotadas pelos dois países são contrárias às promessas feitas pelo G-20 para evitar uma piora da crise. Em relatório que circulou no início da semana, Lamy indicou que se há sinais positivos na economia mundial, os governos deveriam começar a pensar sobre como retirar as barreiras que criaram nos primeiros momento da crise.

Com a crise, muitos governos justificaram que precisavam de medidas excepcionais para um momento considerado excepcional. O problema é que ninguém indicou quando essas medidas serão retiradas. Na prática, as medidas distorceram o comércio. ""A retirada de medidas protecionistas não ocorreu"", criticou o francês. ""Vimos aumento de tarifas de importação que não foi revisto.""

O segundo temor de Lamy é que guerra comercial entre China e EUA desencadeie uma sequência de retaliações, o que ampliaria o protecionismo. Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Columbia, também alertou ontem sobre o risco de uma ""escalada"" na guerra comercial entre americanos e chineses.

Para Lamy, que por anos foi o comissário de Comércio da Europa, a ameaça do protecionismo pode continuar por alguns. Isso porque o desemprego ainda vai se ampliar, o que também significa uma pressão de empresas e sindicatos sobre seus governos para que estabeleçam barreiras à importação. ""O desemprego estará conosco por um bom tempo.""

Mas, para Lamy, há esperanças de que a rivalidade entre EUA e China não complique ainda mais o cenário internacional. ""Tanto Washington como Pequim tem interesse em reforçar o sistema multilateral."" Lamy acredita que o sistema de solução de disputas da OMC dará sua palavra sobre o argumento chinês de que as barreiras americanas são injustas.