Título: Tempo da empáfia acabou, diz Lula
Autor: Nossa,Leonencio ; Monteiro,Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2009, Economia, p. B2

Presidente critica de ex-presidentes a "companheiros" ao se queixar da desconfiança em relação às medidas contra a crise

Ao comentar a retomada do crescimento econômico no País, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem empresários, ex-presidentes, sindicalistas e, como de hábito, parte da imprensa por falta de humildade e "forte desconfiança" nas ações do governo de combate à crise financeira. "Acabou, definitivamente, a empáfia neste País", afirmou, em discurso de improviso durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Itamaraty. Lula avaliou que a crise foi vencida no mercado interno e exaltou medidas tomadas na área econômica.

No encontro, realizado especialmente para comemorar o aumento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre em relação ao período anterior, Lula fez um apelo para que todos os setores incentivem o consumo. "Nós ainda bebemos pouca cerveja, comemos pouca carne e peixe e compramos pouco sapato e pouca roupa", ressaltou.

"Então, nós precisamos elevar o padrão de consumo desta sociedade, para que as pessoas melhorem de vida e tenham emprego." Ele disse que, se governasse levando em conta as manchetes de jornais já teria pedido "asilo político": "Penso que acabou a empáfia de uma parte da imprensa que achava que com suas manchetes podia criar o clima que bem entendesse."

Lula citou pacotes econômicos fracassados dos anos 1990. "Até agora temos processos na Suprema Corte de Plano Bresser, de Plano Verão, de plano não sei das quantas, como se política fosse aquela cartola do coelho, que você vai tirando plano, vai tirando plano e não está preocupado em saber quem vai pagar a conta", disse. "Normalmente é o próximo governo ou a sociedade." Já na crítica aos empresários, o presidente lembrou que muitos deixaram de investir por não acreditar nas previsões do governo.

"Acabou a empáfia dos empresários que achavam que o Estado não valia mais nada, que a empresa privada era a solução para todos os problemas e que o mercado iria resolver tudo", afirmou. Sobrou ainda para os "companheiros" sindicalistas. "Acabou a empáfia dos trabalhadores de achar que não podiam se sentar a uma mesa para conversar." Na avaliação do presidente, a crise no País atinge agora apenas os exportadores, que têm dificuldades de vender no exterior. "Na época da crise, a gente tinha que dizer: vamos vencer essa crise. E eu acho que ela está vencida no Brasil. A única coisa que nós temos é uma certa dificuldade no mercado externo, mas porque também eu não posso convencê-los a comprar o que eles não estão conseguindo vender" .

Em apenas um trecho do discurso, Lula suavizou as avaliações em relação ao comportamento da imprensa."Foi a primeira crise (em) que todos, sem distinção, da imprensa ao mais humilde dos brasileiros, sabia que a crise era internacional, que tinha nascido nos Estados Unidos, passado pela Europa, chegado ao Japão e somente depois chegou aqui", afirmou. Lula ressaltou que "a febre" já passou. "Isto significa que a infecção acabou. Agora, então, não é mais dar antibiótico. Agora é dar vitamina." O presidente concordou com sindicalistas ao avaliar que o spread bancário continua elevado. "É verdade que a taxa de juros é sempre uma coisa que está na cabeça das pessoas. Mas é verdade também que nunca esteve tão baixa assim. Menos preocupante que a taxa Selic é o spread que está sendo cobrado. Certamente o Guido (Mantega) vai encabeçar a redução dessa taxa."

Ele reafirmou a política econômica do governo. "Não vamos abrir mão da nossa responsabilidade fiscal, nós não vamos abrir mão de controlar a inflação", afirmou. Participaram do encontro os ministros da Fazenda, Guido Mantega, da Casa Civil, Dilma Rousseff, de Relações Institucionais, José Múcio, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, além de empresários e sindicalistas.