Título: Bernanke diz que provavelmente recessão acabou
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/09/2009, Economia, p. B12

No entanto, recuperação será lenta e dependerá da criação de empregos, disse o presidente do Fed

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, afirmou ontem que a pior recessão enfrentada pelos Estados Unidos desde a Grande Depressão "provavelmente" acabou. No entanto, a recuperação será lenta e deve demorar até que novos empregos sejam criados, afirmou. Bernanke também pediu ações "urgentes" para corrigir as debilidades "estruturais" da regulação do sistema financeiro e proteger o país da repetição de uma crise como a atual.

"Mesmo que de uma perspectiva técnica a recessão muito provavelmente tenha acabado neste ponto, ainda será uma economia muito fraca por algum tempo, com muitas pessoas achando que a estabilidade de seus empregos e as condições de trabalho não correspondem ao que elas gostariam", afirmou o presidente do Fed após um discurso no Brookings Institution.

Segundo Bernanke, mesmo que a recuperação esteja em andamento, a obtenção de crédito continuará difícil e o declínio na taxa de desemprego ocorrerá lentamente. Se o crescimento econômico for apenas moderado, a taxa de desemprego demorará muito a cair, afirmou. "Vai recuar, mas levará um certo tempo." A taxa de desemprego atinge 9,7% nos Estados Unidos e a previsão é de que passe dos 10% nos próximos meses.

"A não ser que a economia cresça, digamos, num ritmo significativamente mais rápido, haverá uma relativa lentidão na criação dos empregos necessários para absorver as pessoas que entram no mercado de trabalho e, portanto, a taxa de desemprego apresentaria uma tendência de queda bastante lenta", explicou Bernanke.

Bernanke também alertou que o crescimento em 2010 provavelmente não será muito mais forte que o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial. "A visão geral da maioria dos analistas é que o ritmo de crescimento em 2010 será moderado, menos do que você possa esperar, dada a profundidade da recessão por conta dos ventos contrários."

AÇÕES URGENTES

O presidente do Fed pediu agilidade na resolução de problemas de regulação do sistema financeiro. As regras frouxas do sistema incentivaram operações de alto risco e foram consideradas responsáveis pela bolha imobiliária que originou a crise nos EUA.

"Devemos encarar urgentemente as debilidades estruturais do sistema financeiro, em particular no marco regulador, para garantir que não sofreremos de novo os custos enormes dos últimos dois anos", disse Bernanke.

Ele se disse "bastante otimista" sobre que o Legislativo americano aprovará uma reforma das normas financeiras. Mas reconheceu que o Congresso não focou no tema "tão intensamente" quanto se esperava, por ter se concentrado em outros assuntos, como a reforma do sistema de saúde. No entanto, Bernanke disse que a atenção se voltará ao tema, porque a crise "foi uma calamidade grande demais" para esquecer.

Bernanke disse ainda que "operações nebulosas no sistema bancário" que levaram os bancos a securitizar empréstimos devem ser menores e mais simples. "Eu imagino que as operações nebulosas no sistema bancário, pelo menos no médio prazo, não devem voltar a ter o tamanho que tinham", avaliou. "As mudanças nas normas contábeis, nos padrões de regulação, tornarão menos fácil para os bancos fazer empréstimos fora do balanço."