Título: Empresas de commodities têm espaço cativo
Autor: Raquel Landim,
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2009, Negocios, p. B14

Exportadores como a Vale fecham negócios milionários apenas com um escritório na China

As empresas brasileiras de commodities, como a Vale ou a Petrobrás, são cortejadas na China. Com apenas um pequeno escritório de representação e poucos funcionários, conseguem fechar contratos milionários com as estatais chinesas, porque possuem as riquezas naturais que o país precisa para se desenvolver.

Com a crise, essas companhias aumentaram suas vendas no mercado chinês, compensando o que deixaram de exportar para o resto do mundo. Isso não significa, no entanto, que seus executivos tenham vida fácil. Os chineses estão comprando volumes significativos de commodities durante a crise, mas exigem preço baixo.

"Não vendemos mais petróleo na China, porque, por enquanto, não temos", disse o representante chefe da Petrobrás no país asiático, Marcelo Castilho. Ele conta que os preços caíram, mas as vendas, em volume, cresceram 10% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período de 2008. Ao estimular a construção civil e os investimentos, o pacote fiscal chinês aumentou, por exemplo, o consumo de asfalto, produto fabricado a partir do petróleo pesado do Brasil.

A China disputa com a Europa o posto de segundo maior cliente do petróleo brasileiro, atrás dos Estados Unidos. Mas o Brasil é irrelevante como fornecedor para os chineses. O País vende, em média, 120 mil barris por dia para a China, que importa 3 milhões de barris. Segundo Castilho, não é segredo que os chineses estão fazendo uma reserva estratégica de petróleo, mas ele não acredita em manipulações de mercado.

O executivo avalia que as relações da Petrobrás com as estatais chinesas do setor petrolífero devem avançar no futuro. A empresa brasileira quer explorar petróleo na China e não há uma reunião que Castilho participe em que os chineses deixem de reiterar seu interesse em investir na camada pré-sal. O Banco do Desenvolvimento da China já liberou uma linha de crédito de US$ 10 bilhões para a Petrobrás.

Para a Fibria (empresa surgida da fusão entre VCP e Aracruz), que produz papel e celulose, a operação no mercado chinês é motivo de comemoração. Segundo Evandro Muzilli, chefe da representação da empresa em Xangai, o volume de vendas no país deve crescer 70% este ano em relação a 2008. Ele atribui o aumento à maior demanda chinesa, graças ao pacote fiscal, e também a uma maior oferta por parte da empresa brasileira, com o início da operação de uma nova fábrica.

"Em 2008, a China reduziu as compras por conta do impacto da crise. Mas a partir de janeiro deste ano voltou a comprar para recompor estoques e não parou mais. A queda significativa dos preços da celulose também ajudou a aumentar o apetite chinês. No auge da crise, muitos pequenos fabricantes locais faliram", conta Muzilli.

Na Samarco Mineração, a fatia do mercado chinês nas exportações subiu dos usuais 30% para 40%. "Os outros clientes reduziram as compras, mas a China continuou com um ritmo forte", conta o gerente geral da empresa na Ásia, José Serra.

Com a recuperação gradual dos mercados globais, a Samarco quer voltar a reduzir esse porcentual, para evitar uma forte dependência do mercado chinês, onde os preços são bastante competitivos. Serra acredita que as vendas para os demais países asiáticos devem se normalizar em 2010.