Título: A crise e a competitividade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2009, Notas e informações, p. A3

Ruim para todos, a crise está afetando mais a competitividade de alguns países do que de outros. Os Estados Unidos, epicentro da pior crise econômica global desde o fim da 2ª Guerra, perderam para a Suíça a liderança na classificação dos países mais competitivos do mundo. O Brasil, menos afetado pelos problemas financeiros globais do que as economias industrializadas, conseguiu um notável avanço de oito posições no ranking de 2009 que acaba de ser divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) e hoje ocupa a 56ª posição entre 133 países.

O relatório do WEF observa que, graças às mudanças ocorridas no País a partir da década passada no rumo de uma política fiscal mais confiável e sustentável e também graças às medidas de liberação e abertura do mercado, que resultaram num ambiente mais favorável para o desenvolvimento, o Brasil conseguiu melhorar sensivelmente sua competitividade. Já está na metade de cima da tabela de classificação dos países analisados pelo WEF, que utilizou dados macroeconômicos conhecidos e entrevistou 13 mil executivos de empresas em 133 países. Pela primeira vez, o Brasil ficou na frente do México e também da Rússia - que, com o Brasil, a Índia e a China, forma o Bric -, que perdeu 12 posições.

Entre os principais fatores que tornam o Brasil mais competitivo, o relatório cita o amplo e crescente mercado interno de consumo, um dos mais desenvolvidos sistemas financeiros da região, o diversificado e sofisticado setor de negócios e o potencial para a inovação. A existência de grandes empresas brasileiras que estenderam suas atividades para outros países, chamadas pelo WEF de "multilatinas", também foi citada no relatório como demonstração do potencial e da competitividade da economia do País, pois essa expansão no exterior resulta, sobretudo, de uma tecnologia e de uma organização empresarial superiores.

O relatório ressalta, porém, que o Brasil ainda tem muitas carências que limitam sua competitividade e sua capacidade de combater a pobreza e a desigualdade de renda. Apesar de melhoras observadas nos últimos anos, o Brasil ainda ocupa as últimas classificações no que se refere a ambiente institucional, estabilidade macroeconômica, flexibilidade do mercado de trabalho, qualidade do ensino e saúde.

Neste ano, o relatório do WEF apresenta também uma pesquisa com alguns dos principais economistas do mundo, aos quais se perguntou como viam o impacto da crise sobre a competitividade de um grupo de 37 países considerados os mais importantes de todos os analisados. De acordo com a pesquisa, apenas 5 desses países poderão ter algum benefício com a crise, e o que mais se beneficiará é o Brasil - os demais são China, Índia (também integrantes do Bric), Austrália e Canadá.

Apesar das boas perspectivas para os Brics (exceto a Rússia), o WEF destaca que os governos desses países não podem esquecer que há vários desafios pela frente, como o aperfeiçoamento das instituições que asseguram o ambiente melhor para a produção e para os investimentos, a modernização da infraestrutura e a melhora da qualidade dos sistemas educacional e de saúde. As perspectivas relativamente melhores para esses países do que para o resto do mundo não devem alimentar a complacência de seus governos com relação às reformas, mas estimulá-los a fazer aquelas necessárias para dinamizar seu enorme potencial de competição. Trata-se de conselho que vem a calhar para o governo brasileiro, que abandonou o ímpeto reformista.

Quanto aos EUA, o relatório lembra que, embora o país tenha perdido a liderança mundial em matéria de competitividade, continuam tendo uma economia altamente sofisticada, contam com empresas inovadoras que impulsionam a modernização, dispõem de um excelente sistema de ensino universitário e têm um mercado interno que é, de longe, o maior do mundo.

No atual ambiente econômico, cheio de desafios, o relatório, diz o WEF, tem o mérito de mostrar que consequências podem ter para o crescimento futuro as ações que os governos estão adotando no presente.