Título: Renan convenceu Lula a insistir em urgência
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2009, economia, p. B5

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), foi quem convenceu o presidente Lula a enviar as novas regras do pré-sal com regime de urgência ao Congresso. Os argumentos de Renan derrubaram teses de lideranças do PT e mudaram a intenção inicial de Lula - discutida com governadores no domingo - de retirar o caráter urgente das propostas.

Na reunião do conselho político, ontem de manhã, Renan argumentou que a oposição poderá prejudicar as votações dos projetos em 2010, ano eleitoral. Por isso, defendeu, era preciso enviá-los em "regime de urgência", o que significa prazo de 90 dias para votar."Não podemos expor nem subordinar os projetos ao calendário eleitoral", disse Renan a Lula, ministros e lideranças presentes.

Lula chegou à reunião disposto a enviar os projetos sem urgência, atendendo a apelos dos governadores com os quais se reunira na noite anterior. O líder do PT na Câmara, Cândido Vacarezza (SP), defendeu que não houvesse urgência. Alegou que isso abriria um diálogo com a oposição.

Esse mecanismo de aceleração, segundo o deputado, poderia ser usado durante a tramitação. Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu o regime de urgência, mas cogitou retirá-lo, em meio às negociações para a votação. Discursos semelhantes adotaram os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), e do Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC).

Incomodado com as posições dúbias e sem convicção, Lula insistiu na discussão. Renan, então, apresentou sua tese. Alegou que o governo não poderia "afrouxar" nesse tema. "A urgência tem que ser para valer, não podemos ter crise existencial", disse. A influência de Renan na posição do presidente constrangeu ministros e lideranças do PT, que não conseguiram passar a Lula a mesma convicção.

O governador paulista, José Serra (PSDB), não escondeu o desconforto com a decisão de Lula, contrariando o que foi discutido na véspera. "Não foi quebra de acordo, foi uma sugestão que fizemos, para que se desse tempo para discussão. O pré-sal foi anunciado há 22 meses, o governo teve 22 meses para fazer um projeto de lei e é razoável que o Congresso e a sociedade tenham tempo para resolver isso", afirmou.