Título: Lula faz discurso de campanha
Autor: Monteiro,Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2009, Economia, p. B6
Presidente repetiu várias vezes o refrão "O petróleo e o gás pertencem ao povo e ao Estado"
A solenidade era para lançar o marco regulatório do pré-sal, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso de campanha: "Pré-sal, patrimônio da União, riqueza do povo, futuro do Brasil". O slogan, estampado nas pastas do material publicitário, foi seguido à risca no roteiro do discurso do presidente. O novo modelo de produção (partilha), o Fundo Social, a nova estatal e o fortalecimento da Petrobrás foram apresentados como exemplos contrários à política do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o antecessor.
Em tom ufanista, o presidente chamou as reservas do pré-sal de "bilhete premiado" e "dádiva de Deus". E todo o discurso foi pontuado pelo refrão: "O petróleo e o gás pertencem ao povo e ao Estado, ou seja, a todo o povo brasileiro".
Essa foi a primeira das três diretrizes estabelecidas no discurso. Na segunda, ele sentenciou que o Brasil não deve virar um mero exportador de petróleo - o País tem de industrializar o óleo, agregar valor e exportar produtos petroquímicos. A terceira diretriz foi um apelo: "Não vamos nos deslumbrar e sair por aí, como novos ricos, torrando o dinheiro em bobagens".
Com um discurso ensaiado e sem improvisos - que não é o costume -, Lula apelou à mobilização popular em defesa das regras do pré-sal. "Estou seguro de que o povo brasileiro entrará de corpo e alma nesse debate, porque esse não é um assunto apenas para os iniciados e os especialistas. Nem tampouco um tema que deve ficar restrito ao parlamento", disse.
Grande parte do discurso foi usado em uma espécie de louvação à Petrobrás. No ano passado, quando começaram as dicussões sobre o novo marco regulatório, Lula tinha outra postura em relação à estatal e chegou a acusá-la de querer virar dona do petróleo. "O petróleo não é do governo do Estado do Rio de Janeiro, não é da Petrobrás", afirmou em agosto do ano passado.
O presidente acusou o governo FHC de tratar a Petrobrás como "uma herança maldita do período jurássico". Chegou a lembrar, em tom irônico, o plano de marketing para mudar o nome da empresa para Petrobrax, uma ideia que ele atribui aos "adoradores do mercado. "Sabe-se lá o que esse xis queria dizer nos planos de alguns exterminadores de futuro", emendou. "Benditos amigos e companheiros do dinossauro que sobreviveu à extinção, deu a volta por cima, mostrou o seu valor".
Lula salientou que, no seu governo, a estatal ganhou liberdade para investir. "Passamos a cuidar com muito carinho do nosso querido dinossauro", afirmou. Os recursos da empresa destinados à pesquisa e ao desenvolvimento saltaram, pela sua contabilidade, de US$ 201 milhões, em 2003, para R$ 960 milhões, em 2008, sugerindo que foram esses investimentos que propiciaram a descoberta do pré-sal.
Para Lula, a empresa e o Brasil vivem um momento diferente do de 1997, quando o governo quebrou o monopólio do petróleo e criou o modelo de concessão. "Foram tempos de pensamentos subalternos". Na plateia, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, exibiu um largo sorriso e aplaudiu. Terminou o discurso rendendo homenagem aos brasileiros que participaram do movimento pela criação da empresa, nos anos 1950. Citou Monteiro Lobato e, sob aplausos, afirmou que é a "mão invisível do povo, bem mais sábia e permanente, e não a mão do mercado, que tece o destino do País".
O discurso chegou a arrancar lágrimas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O Brasil, segundo o presidente, "está deixando para trás o complexo de inferioridade que lhe inculcaram durante séculos, aprendeu como é bom andar de cabeça erguida e olhar confiante o futuro".
Ao citar o Fundo Social, emendou: " Vamos pagar uma imensa dívida que o País tem com a educação".