Título: Na crise, uma boa safra
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2009, Notas e informações, p. A3

Embora menor do que a da safra anterior, a produção de grãos da safra 2008-2009, encerrada em setembro, não foi ruim. A colheita de 134,3 milhões de toneladas em plena crise, e com as principais regiões produtoras tendo enfrentado sérios problemas climáticos, é o segundo melhor resultado da história, inferior apenas ao da safra passada, de 144,1 milhões de toneladas. A primeira estimativa de intenção de plantio para a safra 2009-2010, que começa neste mês, só estará concluída em outubro, mas alguns indicadores justificam expectativas otimistas.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - que nas últimas semanas de agosto ouviu produtores, agrônomos e gerentes de bancos nos principais municípios agrícolas -, a estiagem registrada no Centro-Sul afetou a produção de culturas tradicionais, como milho e soja, e reduziu a produtividade nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

No Paraná, apesar do aumento de 4% na área cultivada, a produção, severamente prejudicada pela seca, diminuiu 17,6%. Menos afetado pelas adversidades climáticas, Mato Grosso também registrou queda da produtividade, principalmente pela menor utilização de tecnologia - pois os fertilizantes estavam muito caros no início do plantio -, mas a redução foi menor do que no Sul, o que lhe permitiu tornar-se, novamente, o principal produtor de grãos do País, posição que desde a safra 2004-2005 era do Paraná.

Um dos resultados mais expressivos constatados pela Conab foi na produção de trigo, que aumentou 46,8%, tendo passado de 4,1 milhões de toneladas na safra 2007-2008 para 6,02 milhões de toneladas na que acaba de ser colhida. O Brasil tem condições de tornar-se autossuficiente em trigo, mas a expansão da triticultura enfrenta obstáculos como a dificuldade de acesso ao crédito oficial, problemas no escoamento da produção em alguns Estados, carência de variedades próprias para a panificação e falta de armazéns. Por isso, ainda importa metade do trigo que consome.

O maior fornecedor do Brasil tem sido a Argentina, mas a safra desse país neste ano foi afetada pela seca e pelas ações do governo contra os produtores rurais, o que praticamente eliminou a capacidade argentina de exportar. Por isso, a Conab prevê que o Brasil terá de importar trigo do Canadá, dos EUA e de alguns países europeus. Por enquanto, os preços internacionais estão baixos, o que deve facilitar a compra.

Com relação à próxima safra, o superintendente de Informação e Agronegócios da Conab, Aírton Camargo, disse esperar que seja boa. Não quis prever se superará o recorde da safra 2007-2008, mas apontou um fator que deverá estimular o agricultor a plantar mais: alguns dos principais insumos estão mais baratos do que em 2008. O clima, de acordo com as previsões disponíveis, deverá ser menos problemático para a agricultura do que foi na safra recém-encerrada. Além disso, a recuperação da economia mundial deverá impulsionar as exportações brasileiras de frangos e suínos, o que estimulará o plantio de grãos.

Uma indicação da disposição do agricultor de investir mais está no aumento das vendas de máquinas agrícolas constatado pela Anfavea. Em agosto, foram vendidas 5 mil máquinas, 5% mais que em julho. No acumulado de 12 meses, o resultado de agosto de 2009 (51,9 mil unidades vendidas) é melhor do que o de agosto de 2008 (49,8 mil unidades).

A liberação do crédito no momento certo também ajudará a garantir uma boa safra, lembrou o superintendente da Conab. Resta saber se o volume será suficiente. No que depender do governo, porém, não se deve esperar muita coisa. Das verbas que o governo pode distribuir livremente, há anos o Ministério da Agricultura - que lida com a grande produção agrícola, responsável pela geração de sucessivos saldos comerciais e pela conquista de mercados no exterior - vem recebendo menos da metade do valor destinado para o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

É mais uma adversidade que a agricultura tem enfrentado, e superado. E terá de enfrentar também na próxima safra, pois a situação se repetirá em 2010.