Título: Saúde não quer portador escondido
Autor: Venceslau,Pedro
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2009, Vida&, p. A13

Ministério afirma que anonimato só fortalece a discriminação

Quando a reportagem do Estado chegou ao ginásio de Guarulhos, ouviu da produção do evento um pedido: que fossem entrevistadas pessoas que aceitassem mostrar o rosto e revelar o nome. Representantes do Ministério da Saúde ponderaram que entrevistas com nomes fictícios e fotografias feitas de costas ou com sombra apenas contribuem para aumentar o estigma e o preconceito, justamente o que a campanha contra a discriminação visa a combater.

O jornalista Paulo Giacomini aceitou contar sua história nessas condições. Aos 47 anos, ele convive com o vírus HIV há 21. "Fiquei sabendo em 1988. Mas em 1984, quando meu namorado morreu, ainda não existiam os testes no Brasil."

Ele conta que perdeu o emprego na multinacional francesa de commodities onde trabalhava depois de revelar a doença. "Fui internado várias vezes e tive de abrir o jogo. Começaram a me assediar moralmente, até que, em 1994, aceitei fazer um acordo para ir embora da empresa."

Atualmente Paulo é ativista da RNP+ (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids), entidade que surgiu em 1995 para defender os direitos do portadores do vírus HIV. "Aprendi a conviver com o preconceito. Quando alguém se interessa por mim, já vou logo dizendo. A minha exposição pública me fortalece", diz.

Assim como Giacomini, Eduardo Barbosa, diretor adjunto do Departamento de DST/aids do Ministério da Saúde, foi vítima do preconceito. "Ele está embutido. Mesmo se eu estiver em uma roda de amigos, é complicado encontrar alguém para me relacionar sentimental e socialmente. Ser soropositivo causa uma barreira."

Na escola onde Barbosa lecionava, em São Paulo, muitos pais procuraram a diretoria, pedindo que seus filhos fossem transferidos para outra sala, com medo. "Chegaram a me chamar de aidético em sala de aula".

Soropositivo desde 1994, Barbosa foi um dos idealizadores da campanha deste ano, que inspirou a obra de Vik Muniz. "Temos vários planos para a obra e para o dia 1º de dezembro. A ideia é lançá-la em uma solenidade com a presença do presidente Lula e do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, no Rio de Janeiro."