Título: Candidato à Unesco apoiado pelo Brasil caminha para derrota
Autor: Netto,Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2009, Nacional, p. A17

Crescem as restrições ao egípcio Farouk Hosni por causa de declarações antissemitas

O candidato apoiado pelo Brasil para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o egípcio Farouk Hosni, está ameaçado de sofrer uma derrota histórica. Depois de quatro turnos de votação, desde a semana passada, a diplomata búlgara Irina Bokova tornou-se a favorita para suceder o japonês Koichiro Matsuura no quinto e último turno de votação, previsto para ocorrer hoje, em Paris.

As restrições a Hosni crescem a cada dia, por causa de declarações antissemitas que fez no passado. Apesar das críticas, ele obteve o apoio de países árabes e africanos, além do Brasil, que preteriu a pré-candidatura do engenheiro Márcio Barbosa, atual secretário-geral adjunto da Unesco.

A mobilização desses países, contudo, não foi acompanhada por grandes potências, como os Estados Unidos e a França, que trabalharam por uma candidatura de consenso contra Hosni.

De acordo com informações extraoficiais, reveladas nos bastidores da Unesco, os dois candidatos têm 29 votos cada um, mas não vão em pé de igualdade para o turno decisivo.

Isso porque Hosni, inicialmente favorito, enfrenta extremas dificuldades para ampliar seu eleitorado entre os 58 delegados nacionais que votam na Unesco. Entre o primeiro e o quarto turnos, o ministro da Cultura do Egito partiu de 21 votos para 29, enquanto a opositora desbancou outros sete candidatos, agregando seus apoios.

ATAQUES

Durante sua campanha, o ministro da Cultura foi bombardeado com críticas de intelectuais e diplomatas que se recusam a apoiá-lo, em razão de afirmações como: "A cultura israelense é uma cultura inumana; é uma cultura agressiva, racista, pretensiosa, que se baseia sobre um princípio simples - roubar o que não lhes pertence."

Ontem, a escritora francesa e ex-presidente do Parlamento Europeu Simone Veil pediu o boicote ao candidato egípcio para a Secretaria-Geral da Unesco. "As declarações de Hosni sobre os livros escritos em hebreu e sobre os judeus em geral suscitam em mim muitas interrogações", justificou.

DITADURAS

Pouco conhecida até aqui, Irina, de 57 anos, é embaixadora da Bulgária na França e na Unesco. Ela tem no currículo a formação diplomática em Moscou, o posto de representante da Bulgária na Organização das Nações Unidas (ONU) e a passagem pelo cargo de ministra das Relações Exteriores do seu país.

Em seu histórico político consta ainda a luta contra as ditaduras comunistas no Leste Europeu.