Título: Homenagem à ANJ vira ato contra a censura
Autor: Bramatti,Daniel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2009, Nacional, p. A18

Presidente da entidade diz que decisão que atingiu "Estado" prejudica todos os órgãos de imprensa do País

Uma homenagem à Associação Nacional de Jornais (ANJ) se transformou ontem em um manifesto pela liberdade de imprensa e em um ato de desagravo ao Estado, que está sob censura.

"O Estado passa por uma censura velada. Não há um militar na Redação, mas uma decisão judicial que impede o jornal de publicar uma informação de interesse público. Só podemos lamentar que a Justiça dê base legal a uma violência", disse Miguel Ignatios, presidente da Associação Brasileira dos Dirigentes de Vendas (ADVB), promotora do Fórum de Temas Nacionais.

Além de homenagear a presidente da ANJ, Judith Brito, o evento, realizado em São Paulo, teve como palestrante o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour.

Ao discursar, Judith Brito disse que a democracia brasileira tem hoje a liberdade de imprensa como um de seus pilares, mas ressalvou que o caso de censura contra o Estado prejudica todos os órgãos de comunicação do País.

Em 31 de julho, uma decisão do desembargador Dácio Vieira proibiu a publicação de reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney e os negócios da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Presidente da Associação Brasileira das Agências de Propaganda (Abap), o publicitário Luiz Lara também condenou a medida. "A liberdade de imprensa não é apenas um alicerce da democracia, é a própria democracia", afirmou.

Miguel Ignatios disse ter ouvido de diversos empresários manifestações de preocupação com a censura e de solidariedade ao Estado. Ele criticou a demora da Justiça ao analisar os recursos apresentados pelo jornal. "Cobrar uma decisão rápida nesse caso é manifestar apoio à democracia no Brasil."

Também presente ao evento, o presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Flávio Borges D"Urso, manifestou preocupação com um eventual precedente que a censura judicial pode firmar. "Somos todos, jornalistas ou não, guardiães da liberdade de imprensa", discursou.

Gandour fez um relato sobre os principais pontos da cobertura da crise dos atos secretos no Senado, cuja existência foi revelada pelo Estado em junho. Ao comentar a censura atual e aquela sofrida pelo jornal nos anos 70, Gandour afirmou que os contextos são muito diferentes, mas que "talvez haja um sutil ponto em comum que mereça reflexão, o progresso material". "Poderia o progresso econômico propiciar uma certa anestesia política e deixar a população desatenta em relação aos atentados contra a liberdade de expressão?", refletiu.