Título: Volta de líder deve ampliar fratura social hondurenha
Autor: AFP; AP ; Efe
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2009, Internacional, p. A20

Após duas tentativas frustradas, em julho, Manuel Zelaya conseguiu ontem retornar a seu país e criar o "fato político" com o qual pretende dar novo impulso à ofensiva diplomática e evitar a consolidação do regime de facto de Roberto Micheletti. Mas a manobra política que reconduz Honduras às primeiras páginas de jornais de todo o mundo traz um risco: a presença de Zelaya aprofundará ainda mais a divisão da sociedade hondurenha. Pelo menos três mortes são atribuídas à violência política. Caso o governo de Micheletti cumpra a ameaça de colocá-lo atrás das grades, a animosidade de grupos pró e contra Zelaya pode se tornar incontrolável.

Embora seja considerado presidente legítimo por quase toda a comunidade internacional, Zelaya era um líder pouco popular quando foi deposto. Muitos hondurenhos celebraram nas ruas o golpe, no qual militares retiraram Zelaya de sua casa de pijama, sob a mira de fuzis, e o puseram num avião para a Costa Rica. Com o retorno, Zelaya parece apostar numa popularidade que na verdade não tem e numa "disposição revolucionária" que, até agora, não se apresentou. Isso ficou claro em junho, quando - em meio a um show midiático - tentou atravessar a fronteira da Nicarágua de volta para casa. A "multidão de seguidores" que o reconduziria à presidência não resistiu aos bloqueios de estrada e ao toque de recolher impostos pelo governo de facto. Poucos dias depois, esgotados e famintos, os partidários de Zelaya abandonaram os povoados perto da fronteira e a resistência ao golpe.

Zelaya também pagou o preço de aproximar-se demais do venezuelano Hugo Chávez. Foi a ele que o hondurenho recorreu logo após o golpe. Teria sido mais proveitoso cair nos braços do americano Barack Obama. Os EUA são a principal fonte dos recursos econômicos hondurenhos.