Título: Golpista hondurenho adverte Brasil
Autor: Presse, France ; AP; Efe
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2009, Internacional, p. A21

Micheletti diz que País será responsabilizado por qualquer ato de violência que ocorrer perto de embaixada

O governo de facto de Roberto Micheletti protestou ontem contra o Brasil por abrigar o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, em sua embaixada em Tegucigalpa e o responsabilizou por qualquer ato de violência que possa ocorreu perto da missão diplomática. Micheletti também pediu ao Brasil que entregue Zelaya à Justiça hondurenha.

Após uma reunião de emergência, a Organização de Estados Americanos (OEA) exigiu ao governo de facto de Honduras que garanta a vida e a integridade física de Zelaya. A organização também exortou o governo de Micheletti a firmar o Acordo de San José, um plano proposto em julho pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias, para reverter o golpe de Estado. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, disse que viajará para Honduras o quanto antes para buscar uma solução para a crise política.

Arias e a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, manifestaram esperança de que a volta de Zelaya possa servir para solucionar o conflito.

RETORNO

Zelaya, disse ontem que a viagem secreta que o levou de volta a seu país foi "muito longa", obrigando-o a trocar de meios de transporte várias vezes para burlar o controle policial.

"Foram aproximadamente 15 horas no total", afirmou Zelaya em entrevista na embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde chegou à tarde. "Para permitir minha volta, foram feitos diferentes movimentos em vários países. Tive de trocar de meios de transportes várias vezes e adotei um planejamento cuidadoso para que pudesse driblar bloqueios e postos de controle militares e policiais." O líder hondurenho também assegurou que "ninguém mais" o tirará de novo de seu país e disse buscar o diálogo. "Esse é o momento da reconciliação", afirmou. "Estou aqui para buscar o diálogo e resolver o problema."

Zelaya evitou dar mais detalhes sobre o seu retorno, aparentemente para evitar comprometer aqueles que o ajudaram. Ele mencionou, porém, o "esforço internacional" como um dos fatores cruciais para a sua volta.

Em 28 de junho, Zelaya foi enviado de pijama pelos militares hondurenhos para a Costa Rica. Desde então, tentou voltar duas vezes. A primeira, em 5 de julho, foi em um avião venezuelano, mas militares bloquearam a pista do aeroporto de Tegucigalpa para impedir o pouso.

Na segunda, pela fronteira com a Nicarágua, 19 dias depois, policiais leais ao governo de facto de Roberto Micheletti impediram a comitiva do presidente deposto de avançar. Zelaya conseguiu pisar por apenas alguns minutos em solo hondurenho. Na ocasião, ele anunciou que aguardava a "chegada do apoio vindo das montanhas hondurenhas" para conseguir voltar ao poder .

O presidente deposto passou a maior parte do exílio na Nicarágua, embora tenha feito diversas viagens para angariar o apoio de países da região. Só para os EUA foram seis visitas, nas quais Zelaya se encontrou tanto com membros da OEA, quanto com autoridades americanas, como Hillary.