Título: Consultoria contesta potencial exportador
Autor: Andrade, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2009, Economia, p. B12

Para a MB, consumo interno será igual à produção de petróleo em 2020

Estudo divulgado ontem pela consultoria MB Associados indica que o governo superestima o potencial exportador das reservas do pré-sal. O trabalho considera um crescimento da economia de 4,5% por ano, em média, e conclui que o consumo interno de combustíveis estará no mesmo nível da produção em 2020. "O País tem perspectiva de forte crescimento nos próximos anos, o que pode jogar um pouco de água fria na rapidez que se coloca nos retornos do pré-sal", diz o relatório, assinado pelo economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

Ele argumenta que a elasticidade entre Produto Interno Bruto (PIB) e consumo de petróleo é de 1,6 e, mantida a projeção de alta do PIB, o Brasil estará consumindo 3,9 milhões de barris por dia em 2020, mesmo volume que a Petrobrás estará produzindo. "Ou seja, a Petrobrás está trabalhando com estimativas que podem não levar a excedente exportador nos próximos 10 anos", diz o texto. O trabalho da MB não considera a produção das petroleiras privadas, que pode chegar a 300 mil barris por dia em 2020.

Para 2030, mantido o ritmo do PIB, a MB projeta um consumo de 7,2 milhões de barris por dia, "o que deve ser coberto com o pré-sal, mas joga dúvidas ainda na capacidade exportadora". Para o economista, também não deve haver grande crescimento de importações com pré-sal, uma vez que a necessidade de equipamentos pode ser compensada por uma queda na importação de combustíveis, já que há novas refinarias em estudo pela estatal.

"Talvez toda a discussão sobre a maldição do petróleo e a doença holandesa esteja equivocada pelos próximos 10 anos", conclui o texto.

Sócio da MB, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi ministro e presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso, evitou comentar os resultados, mas defendeu, em evento no Rio, o modelo de partilha proposto pelo governo. Mas não concorda com a exclusividade de operação da Petrobrás.

"É um defeito estrutural do projeto do governo. Está sendo dado ao acionista da Petrobrás o status de monopolista", afirmou. Também presente ao evento, o ex-presidente da Petrobrás e atual coordenador do comitê de energia da Firjan, Armando Guedes, concordou que o pré-sal mereça novas regras. Ele lembrou, por exemplo, que poço Guará, na Bacia de Santos, apontou para uma vazão de 50 mil barris num único poço, quando a média fica sempre no máximo em 10 mil barris num dia. "Eu nunca tinha visto fora da Arábia saudita."