Título: Comunicado indica que inflação está sob controle
Autor: FERNANDES, NALU;LEONEL,FLAVIO;PEREIRA,RENÉE
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2009, economia, p. B10

Para analistas, Banco Central avalia que a economia pode voltar a crescer sem pressionar a inflação

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter os juros em 8,75% ao ano acompanhou a aposta majoritária do mercado financeiro. A primeira sinalização do resultado de ontem foi dada há algumas semanas, com a publicação da ata da reunião de julho. No documento, os diretores do Banco Central afirmavam que "uma postura mais cautelosa contribuiria para mitigar o risco de reversões abruptas da política monetária no futuro e, assim, para a recuperação consistente da economia ao longo dos próximos trimestres". O recado foi seguido à risca ontem e agradou aos analistas, que esperam uma estabilidade da taxa por algum tempo.

De acordo com o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano, a decisão de setembro aponta para a manutenção do atual cenário de juros por um período de tempo longo, que deve abranger o restante de 2009 e 2010 inteiro. "No nosso cenário, é difícil ver alguma alteração na taxa básica nos próximos 16 meses. Há um cenário de recuperação de atividade que não cria uma recomposição dos fatores de produção num ritmo muito elevado", destacou.

Opinião semelhante tem o economista sênior da Santander Asset Management, Ricardo Denadai. Na avaliação dele, o comunicado divulgado após a reunião reforça a ideia de que o cenário econômico doméstico segue equilibrado, com dados indicando desaceleração da inflação corrente, expectativas bem ancoradas para o próximo ano e continuidade da recuperação da atividade econômica.

"Acreditamos que o comunicado sinaliza que a Selic ficará estável por um longo período, pois a velocidade da recuperação não criará pressões inflacionárias, dada a ainda a elevada ociosidade da economia brasileira (esta ociosidade será ocupada gradualmente)." Além disso, destaca Denadai, um provável aumento das importações, em razão da valorização cambial e do excesso de capacidade produtiva ociosa no mundo, sobretudo nos países desenvolvidos, que seguramente será direcionada para os países emergentes em recuperação, incluindo o Brasil, ajudará a manter um cenário benigno para os preços do bens comercializáveis.

Para o diretor-gerente da consultoria americana IHS Global Insight para América Latina, Rafael Amiel, o Copom quis assegurar que qualquer aumento da demanda consumidora local será acompanhado por meio de maior produção e não pelo aumento de preços. "", afirmou, em relação ao novo trecho que foi adicionado no comunicado divulgado.

Amiel também aponta o horário do término na reunião de política monetária. "A reunião de hoje (ontem) acabou cedo. Mostra que todos os diretores estão compartilhando da mesma opinião. Definitivamente, a inflação está sob controle", acrescentou. O economista prevê queda de 0,6% do PIB este ano. Ele também estima que a taxa Selic fechará 2009 no patamar atual, 8,75% ao ano.