Título: Escândalos desgastaram mais o partido que o presidente
Autor: Bramatti,Daniel
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2009, Nacional, p. A8
Em meio a crises, presidente já chamou correligionários de ?aloprados? e os responsabilizou por irregularidades No começo de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT teria de "sangrar muito" para recuperar a credibilidade perdida com o envolvimento no escândalo do mensalão. Passados três anos e meio, o próprio presidente desatou uma nova hemorragia ao colocar o partido na linha de frente do salvamento político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Além do mensalão, o PT esteve no centro de outras três grandes crises do governo. Em todas, líderes da legenda saíram chamuscados ou caíram em desgraça, enquanto Lula buscava se preservar.
Em 2006, apesar de afirmar que o PT não poderia ser condenado por erros de "três, quatro, meia dúzia, dez, quinze ou vinte", Lula foi enfático ao dizer que o partido havia cometido "um erro de gravidade incomensurável", em referência ao uso de caixa 2 nas eleições. O presidente jamais admitiu ter conhecimento do esquema de cooptação política cuja revelação, em 2005, provocou o maior abalo em seu governo.
Não foi a primeira crise do mandato. Em 2004, Waldomiro Diniz, homem de confiança do então ministro da Casa Civil José Dirceu, teve de pedir demissão após a divulgação de uma gravação, feita dois anos antes, em que aparecia negociando propina com um bicheiro.
Abalado pelo escândalo, Dirceu sobreviveu até o ano seguinte, quando também teve de deixar o governo, após ser apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como articulador de um suposto esquema de mesadas para comprar votos de parlamentares no Congresso. Após reassumir o mandato de deputado, Dirceu acabou cassado na Câmara.
Luiz Gushiken, outro integrante do chamado "núcleo duro" de Lula, perdeu o status de ministro ao deixar a Secretaria de Comunicação de Governo, em meio a suspeitas de irregularidades em fundos de pensão de empresas estatais.
Em 2006, Lula teve de "queimar" seu terceiro homem forte no governo: Antonio Palocci, ministro da Fazenda e fiador da política econômica que marcou todo o primeiro mandato. A situação de Palocci havia ficado insustentável após ser acusado de envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, testemunha de supostos encontros do ministro em uma casa utilizada por lobistas, em Brasília.
O quarto escândalo ocorreu às vésperas da eleição de 2006, na qual Lula disputou o segundo mandato, tendo Geraldo Alckmin (PSDB) como principal adversário. A Polícia Federal apreendeu R$ 1,7 milhão com dois emissários do PT que pretendiam comprar um dossiê com denúncias contra o tucano José Serra, candidato ao governo de São Paulo. O autor do dossiê era Luiz Antonio Vedoin, dono de empresa acusada de atuar na chamada máfia dos sanguessugas, que vendia ambulâncias superfaturadas.
Os emissários petistas acabaram ligando ao caso pessoas envolvidas nas campanhas de Lula e do senador Aloizio Mercadante, então candidato ao governo paulista pelo PT. Em entrevista a emissoras de rádio, o presidente procurou se desvencilhar do escândalo ao afirmar que a negociação do dossiê havia sido uma iniciativa de "aloprados" de seu próprio partido. Após perder pontos na corrida eleitoral, Lula se recuperou e derrotou Alckmin no segundo turno. Derrotado, Mercadante voltou ao Senado.