Título: O apoio do Brasil é indispensável agora
Autor: Alvarez,Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2009, Nacional, p. A11

Entrevista - Juan Manuel Zelaya: Presidente deposto de Honduras; líder abrigado na embaixada brasileira diz que voltou a Honduras para negociar e não teria como resistir a uma invasão

Antes de uma reunião com sua "comissão de diálogo" na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, falou ao Estado por telefone e disse ter esperança de chegar a um acordo para pôr fim à crise de forma pacífica.

O sr. acredita que há risco de uma invasão à embaixada?

Claro que sim. Estamos cercados e ainda há muito perigo.

E o sr. teria como resistir?

Não, há pouca possibilidade de conseguir isso contra a repressão do grupo militar.

Qual é o seu plano agora?

Vim de boa vontade para pedir diálogo, para chegar a um acordo. Mas fomos recebidos com tiros, bombas, estado de sítio, supressão de liberdade públicas. E o pior são as centenas de presos políticos, dezenas de feridos, mortos. Desde 28 de junho estão sacrificando o povo, sem se importar com as consequências.

Que acordo pretende propor ao governo de facto?

Estou atendendo às recomendações da OEA, da ONU, que fazem parte de um conjunto de medidas que já estão estabelecidas. E posso atender a outras possíveis solicitações a fim de que o país volte à calma, porque não se trata de um assunto pessoal. É um assunto de direito do povo.

Mas o sr. tem esperança de alcançar um acordo?

A esperança nunca se perde, temos sempre de lutar por ela.

Se o sr. conseguir voltar ao governo, como ficam as eleições presidenciais de novembro?

Ficam como estava previsto. Sobre isso nunca houve dúvida. O problema do golpe de Estado é que uma elite quer se apropriar de toda a riqueza nacional. Não tem nenhuma relação com eleições nem com a esquerda. Tem a ver com ambição.

Como conseguiu voltar a Honduras?

De uma forma inteligente e valendo-me de reservistas.

Por que escolheu a embaixada do Brasil?

Por causa da democracia brasileira e pela amizade do presidente Lula. O Brasil tem grande aceitação na América Central, Lula é muito querido. O apoio do povo brasileiro é indispensável neste momento trágico que vive Honduras.