Título: Lula ataca Yeda em palanque no RS para Dilma e Tarso
Autor: Ogliari,Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2009, Nacional, p. A6

Presidente diz que cerimônia era institucional, não partidária, e desafia imprensa a mostrar se algum outro presidente investiu mais no Estado

Ao lado dos candidatos do PT à Presidência, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e ao governo gaúcho, ministro Tarso Genro (Justiça), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou ontem a imprensa a mostrar se outro governo investiu mais no Rio Grande do Sul que o dele. Em discurso, durante assinatura de ordens de serviço para a BR-448, Lula lamentou a ausência da governadora Yeda Crusius (PSDB) e do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), frisando que o ato era institucional, não partidário.

A cerimônia ocorreu no entroncamento da BR-116 com a RS-118, na divisa dos municípios de Esteio e Sapucaia do Sul. A nova rodovia, de 22 quilômetros, será uma alternativa paralela à BR-116, que tem fluxo diário de 135 mil veículos na região metropolitana de Porto Alegre. A obra, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), custará R$ 820 milhões.

"Lamentavelmente, eu gostaria que estivessem aqui neste palanque a governadora do Estado e o prefeito de Porto Alegre. Eu sei que vocês vão vaiar, mas estamos num ato institucional. O presidente tem de se relacionar com os entes federados e garantir condições civilizadas de fazer as coisas", destacou Lula. A plateia, de algumas centenas de pessoas, era hostil a Yeda, que enfrenta pedido de impeachment na Assembleia, e a Fogaça, filiado ao PMDB, adversário do PT no Estado.

"Eu até pediria que os estudiosos, os ex-prefeitos, os atuais, os adversários, queria que a gloriosa imprensa brasileira fizesse um estudo comparativo para saber em que momento da história do Brasil o Rio Grande do Sul recebeu R$ 25 bilhões de investimentos num programa do governo", disse, referindo-se ao PAC.

DILMA

Lula tratou Dilma como candidata na visita de menos de cinco horas ao Estado. No discurso, arrancou risos da plateia ao brincar que ainda não tinha um nome para 2010. "No ano que vem eu virei aqui, aí sim para falar de política", disse.

Logo que desembarcou, na Base Aérea de Canoas, Lula concedeu entrevista à Rádio Guaíba. "Temos de estar preparados para lançar Tarso, preparados para lançar a Dilma e preparados para ganhar a eleição", afirmou. "É possível que a gente construa um time capaz de ganhar. Temos condições de construir em torno de Dilma esse time para ganhar as eleições", reforçou o presidente.

Quando falava da perspectiva da construção de um milhão de casas, ele voltou a mencionar a chefe da Casa Civil. Inicialmente, disse que esse número cria um paradigma que forçará qualquer governo que vier depois a fazer mais, para não ficar atrás do que "um simples torneiro mecânico" fez pelo País. "Espero que a Dilma faça o dobro e faça melhor", declarou.

A ministra foi na mesma linha. Afirmou que o sucessor de Lula, se for da base aliada, terá de continuar suas obras e "fazer melhor", porque vai encontrar um "Brasil arrumado". Disse que, quando Lula assumiu, a inflação estava chegando a dois dígitos e o País "vivia aceitando interferência do Fundo Monetário nas menores às maiores questões". Ela voltou a dizer que o PT só definirá o candidato à Presidência em 2010.

PROTESTO

A presença de Lula atraiu, entre as centenas de simpatizantes, algumas dezenas de pessoas mobilizadas para protestar contra o governo. O presidente percebeu a presença do grupo, que portava faixas e gritava palavras de ordem, e iniciou seu discurso dirigindo-se aos manifestantes.

Aos quilombolas que pediam a titulação de terras, ele destacou que o seu governo foi o que mais reconheceu e regularizou áreas para os grupos remanescentes de escravos e prometeu assinar mais decretos.

Ao outro grupo, maior, de funcionários dos Correios em greve, o presidente não fez promessas, mas apenas advertências. Afirmou que o dirigente sindical é aquele "que tem coragem de começar uma greve e de acabá-la quando percebe que ela está pronta para acabar".