Título: PT e parte do PMDB querem anunciar aliança em outubro
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2009, Nacional, p. A6

Foi a resposta governista diante da pressão da ""ala tucana"", que apoia Serra

O PT e a ala do PMDB alinhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva querem anunciar, em outubro, que fecharam "pré-compromisso eleitoral" para a sucessão de 2010. Diante da pressão do "PMDB tucano", que apoia a candidatura presidencial do governador paulista, José Serra (PSDB), o PT concordou em acelerar os entendimentos com a parte governista da sigla aliada, tal como defendera o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Petistas temem que o PMDB se disperse e o bloco serrista ganhe força, dificultando a aliança oficial que pode dar à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT, no mínimo mais 3 minutos e 11 segundos de propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão.

Temer, o peemedebista mais cotado para a vaga de vice de Dilma, ouviu a proposta do presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP): "Não dá para fechar a aliança em outubro, mas podemos fazer um pré-compromisso eleitoral".

O PT se movimentou após o ex-governador Orestes Quércia ter desembarcado em Brasília, na terça-feira, disposto a impedir um "acerto precipitado" da legenda com a ministra.

Além do telefonema de Berzoini, com a proposta do "pré-acordo já", Temer gostou da conversa que teve com Dilma, no gabinete do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). "Pela primeira vez, ela não escondeu sua condição de candidata a presidente. Ao contrário, disse isso claramente", entusiasmou-se o deputado, que em entrevista ao Estado, no domingo, havia cobrado tanto da ministra quanto do PT que assumissem logo a candidatura.

Ele contou a Dilma que, no encontro com Quércia, destacara que o PMDB "apanha muito por razões éticas", com o propósito de cobrar correção. "Se não vamos com o governo (em 2010), temos que sair do governo, exatamente como cobrei que fizéssemos quando você não queria apoiar Serra (em 2002) e estávamos no governo Fernando Henrique."

Divergências à parte, até governistas como o ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitem que Quércia tem razão quando afirma que o quadro está indefinido nos Estados e que, a depender das alianças locais, a maioria governista pró-Dilma pode virar em favor do PSDB.

É o caso de Minas Gerais, onde Costa lidera com folga a corrida pelo governo estadual e, diante da indefinição do PT, não hesita em afirmar que o quadro está em aberto: "Tanto podemos compor com o PT, como com o PSDB."

O ministro explica que Minas está em compasso de espera, aguardando "um passo" do governador Aécio Neves, outro pré-candidato do PSDB a presidente. Costa não tem dúvidas de que, se o mineiro - em vez de Serra - for o escolhido dos tucanos para disputar a sucessão do presidente Lula, o Estado inteiro ficará com ele. Vai mais longe, e admite que a "relação fraterna" que mantém com Aécio pode evoluir para uma parceria local que certamente vai influir na aliança nacional.

"Por mais que a gente diga que quer o PT (como parceiro para a chapa ao governo de Minas), o PT não diz nada", queixa-se Hélio Costa. "Amor não correspondido é muito ruim. Cansa." Costa deixa claro que a espera tem limite. "Até o fim de janeiro fica (como está), mas, aí, quem tiver candidato a governador terá de se posicionar."

No caso do PT, são dois os pré-candidatos ao governo de Minas: o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, e o ex-prefeito Fernando Pimentel, de Belo Horizonte. Por isso, Costa avalia que hoje está mais fácil compor com o PSDB de Aécio do que com o PT.

Na questão nacional o cenário é outro. Governo e PT programam uma reunião ampla com a cúpula peemedebista, ao final da primeira quinzena de outubro, antes de fecharem o pré-compromisso.

A data será marcada depois que Lula e Temer voltarem da viagem à Europa - ambos irão a Copenhague no início do mês para tratar das Olimpíadas de 2016 - a agenda do presidente inclui visita a mais dois países. Até lá, Temer vai ampliar as conversas internas.