Título: Na ONU, Lula faz advertência e oferece mediação em Honduras
Autor: Chacra,Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2009, Internacional, p. A17

Líder pede que comunidade internacional preste atenção na inviolabilidade da embaixada brasileira O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu na Assembleia-Geral da ONU a restituição imediata do cargo ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e pediu que a comunidade internacional preste atenção na inviolabilidade da embaixada brasileira em Tegucigalpa, onde o líder hondurenho está refugiado desde segunda-feira.

Em seu discurso, Lula ressaltou a neutralidade do Brasil no conflito hondurenho e ofereceu os bons ofícios do País para mediar uma solução para a crise e insistiu que, no final, "prevalecerá a vontade política" dos eleitores hondurenhos. Ele destacou que se reunirá em breve com Barack Obama para discutir sobre a crise hondurenha.

O presidente afirmou que a desregulamentação do mercado foi a principal responsável pela crise financeira internacional. O líder brasileiro criticou ainda os países ricos por não concordarem com reformas em organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Conselho de Segurança.

"O que caiu por terra foi toda uma concepção econômica, política e social tida como inquestionável. O que faliu foi um insensato modelo de pensamento e de ação que subjugou o mundo nas últimas décadas. Foi a doutrina absurda de que os mercados podiam autorregular-se, dispensando qualquer intervenção do Estado, considerado por muitos um mero estorvo", disse o presidente, primeiro chefe de Estado a discursar na Assembleia-Geral, conforme a tradição, ao comentar a crise financeira internacional. Ele ressaltou que o Brasil conseguiu ser um dos primeiros países a superá-la.

Para Lula, "o enfrentamento da crise e a correção de rumo da economia mundial não poderiam ficar apenas sob a responsabilidade dos de sempre. Os países desenvolvidos - e os organismos multilaterais onde eles eram hegemônicos - foram incapazes de prever a catástrofe que se iniciava e, menos ainda, de preveni-la". Para Lula, "é incompreensível a paralisia da Rodada Doha, cujo acordo beneficiará sobretudo as nações pobres".

Na área de política internacional, defendeu a coexistência de um Estado palestino e um israelense e pediu ajuda a países como o Haiti. Sobre a América Latina, Lula elogiou "as experiências de integração regional, como ocorre na América do Sul com a constituição da União de Nações Sul-Americanas (Unasul)". O presidente considerou ainda que, sem vontade política, "persistirão anacronismos como o embargo contra Cuba" e "continuarão a proliferar golpes de Estado como o que depôs Zelaya.

Com relação à preocupação com as mudanças climáticas, Lula disse que o Brasil está cumprindo sua parte. Segundo ele, "a matriz energética brasileira é das mais limpas do planeta e 45% da energia consumida no país é renovável. No restante do mundo apenas 12% é renovável. Mais de 80% dos carros produzidos no país têm motor flex, o que permite a utilização de gasolina ou álcool".