Título: Investimentos nas ferrovias
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2009, Notas e informações, p. A3

Os investimentos programados para o setor ferroviário impressionam e, se executados no prazo previsto, darão novo fôlego aos sistemas de transporte de cargas e passageiros sobre trilhos, que nos últimos anos ficaram praticamente esquecidos dos grandes planos públicos e privados. Até 2014, poderão ser investidos nas ferrovias R$ 71 bilhões, 270% mais do que se investiu de 2004 a 2008, como mostrou reportagem de Renée Pereira publicada domingo no Estado. Esse valor corresponde aos investimentos previstos para os próximos quatro anos pelo setor público e pelas empresas privadas.

Com esses investimentos, o Brasil passará a fazer parte dos países que decidiram investir pesadamente nas ferrovias como forma de melhorar a circulação de mercadorias e pessoas, de amenizar os efeitos da crise mundial e de gerar empregos. A lista inclui EUA, China, Índia e alguns países europeus.

Embora expressivos, sobretudo se se considerar que este é um setor carente de aplicações maciças em expansão da malha e modernização e renovação de equipamentos e infraestrutura, esses investimentos - mesmo que inteiramente realizados de acordo com o cronograma aprovado - não serão suficientes para recompor o sistema ferroviário que existia no País na década de 1950. Naquela época, o Brasil chegou a ter uma malha de 37 mil quilômetros de trilhos.

A opção pelo transporte rodoviário nos anos seguintes, no entanto, fez encolher a malha. Atualmente, ela é de 29 mil km. Se todos os planos forem executados, a malha nacional totalizará 35 mil km em 2015. O plano do governo é alcançar 52 mil km de ferrovias em 2030, lembrou o diretor da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça.

Os investimentos previstos para os próximos anos foram levantados pelos organizadores do evento Negócios nos Trilhos e incluem o trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Só nesse empreendimento - que, se tudo der certo, estará pronto até a Copa do Mundo de 2014 - serão investidos R$ 34 bilhões, ou praticamente 48% do total.

Também na área de transporte de passageiros estão na lista os veículos leves sobre trilhos (VLT), um tipo de metrô de superfície, com capacidade para o transporte de 400 pessoas por unidade e cujo custo representa cerca de um terço do metrô convencional.

"Este é o momento de focar o VLT", disse o secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, José Luiz Portela. A capital paulista deverá ter três VLTs (Expresso Tiradentes, Congonhas-São Judas e Vila Nova Cachoeirinha-Lapa). Também terão VLTs Santos, Brasília, Recife, Fortaleza e a região do Cariri, no Ceará.

O transporte de cargas por trilhos receberá investimentos de R$ 25 bilhões. Há grandes projetos, como a Ferrovia Norte-Sul, cuja construção começou no governo Sarney (1985-1990), que já tem 215 km em operação e, até o fim do ano, deverá ter novo trecho pronto. Até 2010, o governo pretende entregar a Nova Transnordestina (entre Fortaleza e Recife, com extensão até Eliseu Martins, no sul do Piauí), mas sua construção enfrentava problemas financeiros e com desapropriações. Agora se espera a aceleração da obra, pois ela passou a ser tocada pela CSN. O setor privado, por meio da América Latina Logística, investe também R$ 750 milhões na ferrovia de 250 km entre Rondonópolis e Alto Araguaia.

Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, considera esses investimentos muito importantes, mas observa que o País precisa investir muito mais em infraestrutura ferroviária, para melhorar a competitividade do produto brasileiro. "Os R$ 70 bilhões servem apenas para dar o pontapé inicial."

O que já não é muito, na opinião de Resende, pode ficar ainda menor, pois indícios de irregularidades identificados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na licitação, contratação de obras ou na liberação de recursos impedem ou retardam projetos na área pública. E, mesmo que liberados pelo TCU, a execução desses projetos depende da eficiente gestão do governo e da liberação dos recursos em tempo hábil, o que não tem ocorrido com a frequência desejada.