Título: ''Censura ao ''Estado'' é injustificável em qualquer caso'
Autor: Assunção,Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2009, Nacional, p. A11

Entrevista - Aldo Fornazieri: cientista político; para ele, caso revela força da herança cultural do patrimonialismo, que considera "extremamente danoso à democracia" Os escândalos no Senado e a censura ao Estado constituem exemplos do patrimonialismo colonial. A opinião é do cientista político Aldo Fornazieri, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. "Aparentemente, há um tráfico de influência e uma relação extremamente próxima entre a família Sarney e setores do Judiciário nesse caso e toda a história demonstra que ainda não se desenvolveu um conceito republicano real no Brasil", afirma.

O Estado está proibido por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, de publicar reportagens sobre os negócios de Fernando Sarney, alvo de investigação da Polícia Federal. Fernando é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O juiz foi declarado suspeito e afastado do caso, mas a censura continua em vigor.

Há traços de nosso patrimonialismo ancestral nesse caso?

É o pano de fundo dessa discussão. Temos uma herança cultural do patrimonialismo, sistema pelo qual os gestores da coisa pública agem como se fossem donos do Estado. É uma visão que permanece forte em muitos setores da política e do Judiciário. A censura ao Estado é injustificável em qualquer caso, mas há algo nesse episódio do Senado que vai além disso. Demonstra esse vício de origem, que é extremamente danoso à democracia.

Qual é o padrão de um conceito republicano?

Na república, tudo o que um governante faz é divulgado e a opinião pública vai cobrá-lo sobre as medidas que tomar. Não há nada secreto, o que só ocorreria nas monarquias absolutas. O caso dos atos secretos no Senado enquadra-se à perfeição nesse tipo de comportamento, típico das antigas monarquias.

A imprensa cumpre seu papel?

Tenho ouvido muita gente dizer que o presidente Lula é perseguido pela imprensa. Políticos de outros partidos e ideologia totalmente distintas também alegam ser perseguidos. Quando isso ocorre, fica demonstrado que a imprensa tem agido com isenção.