Título: Governo de facto acusa Lula de intromissão
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2009, Internacional, p. A17

Golpistas também responsabilizam País por segurança de Zelaya

O governo de facto de Honduras acusou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de intromissão nos assuntos internos do país. Também responsabilizou o Brasil pela vida e segurança do presidente deposto Manuel Zelaya e das cerca de 60 pessoas que o acompanham na embaixada brasileira desde segunda-feira. Para o governo de facto, a missão brasileira em Tegucigalpa transformou-se em uma "plataforma de propaganda política e de concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública de Honduras".

"É evidente a intromissão do governo do senhor Lula da Silva em assuntos internos de Honduras", informou um comunicado divulgado pela chancelaria do governo de facto.

Segundo o comunicado, essa constatação tem como base supostas declarações do presidente Lula e do chanceler Celso Amorim, que teriam sido feitas na ONU, de que o governo brasileiro teve conhecimento prévio do ingresso de Zelaya na embaixada em Tegucigalpa. Outro argumento, curiosamente, foi o "categórico desmentido" de Zelaya dessa versão.

O presidente Lula negou ontem que o Brasil tenha organizado a volta de Zelaya a Honduras.

"Vocês vão ter de acreditar nos golpistas ou em mim", afirmou Lula ao ser questionado sobre os meios que levaram Zelaya de volta a Tegucigalpa. "É preciso deixar o presidente golpista sair", destacou o presidente minutos antes de participar do jantar inaugural do G-20.

Em entrevista ao canal de televisão americano PBS, Lula disse que Zelaya "teve de parar em alguma embaixada e a preocupação não deve ser em que embaixada está ou como chegou".

Para o presidente Lula, o importante "é que há um golpista no poder" em Honduras. "É justo que o presidente eleito democraticamente queira voltar a seu cargo. O golpista, se quer ser presidente, que dispute as próximas eleições", acrescentou Lula.

Na entrevista, Lula ainda avaliou positivamente a resposta do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à crise em Honduras e disse que ele atuou corretamente ao condenar o golpe.