Título: Bolívia cobra reajuste do gás
Autor: Pamplona,Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2009, Economia, p. B11

Bolivianos voltam a pressionar, com argumento que a Petrobrás não cumpriu acordo fechado no ano passado Petrobrás e Bolívia iniciaram nova queda de braço com relação ao suprimento de gás. Embora a estatal evite comentar o assunto, os bolivianos voltaram a pressionar por aumento no preço do combustível, pedindo a implementação de acordo fechado no ano passado entre os governos dos dois países. Além disso, querem uma redução nos volumes de exportação, para que possam destinar o gás que não vem sendo consumido pelo Brasil a outros clientes, como a Argentina ou indústrias locais.

As duas partes se reuniram na semana passada em Santa Cruz de la Sierra para iniciar as conversas. Segundo autoridades do setor energético boliviano, a revisão do contrato com o Brasil esteve na pauta. A Petrobrás, por sua vez, diz que encontro tratou apenas de "temas de rotina".

Uma fonte próxima às negociações, porém, conta que a Bolívia quer que a Petrobrás cumpra a promessa, feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao país no mês passado, de pôr em prática acordo sobre os novos preços do gás.

O assunto está em suspenso desde fevereiro de 2007, quando Lula aceitou pleito de Evo Morales para que a estatal começasse a pagar pelas chamadas "frações nobres" do gás que importa da Bolívia - moléculas de etano, propano e butano, que poderiam ser separadas e vendidas a preços superiores. A conta adicional, segundo cálculos feitos na época, pode ser superior a US$ 100 milhões por ano. Até agora, porém, não houve acordo sobre uma fórmula para calcular o preço adicional.

A Bolívia quer agilizar esse processo e espera novo encontro com representantes da Petrobrás nos próximos dias, informou esta semana o presidente da estatal local YPFB, Carlos Villegas. No fim de semana seguinte à reunião de Santa Cruz, a Petrobrás reduziu às importações de gás boliviano para a casa dos 16 milhões de metros cúbicos por dia, o menor nível desde o fim de 2003. O volume representa quase a metade da capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil, de 31 milhões de metros cúbicos por dia.

O ato foi encarado por especialistas como um alerta aos bolivianos que o Brasil não sofre mais de dependência excessiva do gás do país vizinho - pelo contrário, o Brasil hoje tem um cenário de excedente de oferta e caminha para se tornar exportador na próxima década, a partir das reservas do pré-sal.

A empresa nega que tenha agido com esse objetivo, mas disse que preferiu, durante o fim de semana, escoar cargas de gás natural liquefeito (GNL) compradas a preços mais baratos.

PRESSÃO

A pressão boliviana é motivada por uma mudança drástica no cenário econômico após a crise, que levou a uma queda de 42,6% no preço do gás exportado desde outubro de 2008, além de redução nas compras brasileiras - até julho, a média diária de importações brasileiras era de 22,8 milhões de metros cúbicos por dia, 25% a menos do que em 2008.

Além dos impactos sobre a arrecadação do país, há problemas para o suprimento interno de combustíveis, uma vez que o parque refinador boliviano trabalha com líquidos extraídos junto ao gás.

"O mais provável é que o Brasil aumente novamente sua demanda de gás, mas essa redução das compras (entenda-se estratégia de negociação), casualmente realizada em coincidência com o início das reuniões entre Petrobrás e YPFB, é um aperitivo dos efeitos negativos para a Bolívia em caso de alguma modificação considerável quanto aos volumes do contrato", comentou o consultor boliviano Bernardo Prado Liévana, em artigo no site HidrocarburosBolivia.